09 agosto 2012

47 - A Chegada


O mês passou mais rápido que papel na ventania. E com isso vieram algumas novidades. A primeira delas é que o bebê de Luciana finalmente nasceu. Duas semanas depois da visita a Elena, Luciana entrou em trabalho de parto. 
O dia amanheceu ensolarado, mas no começo da tarde o tempo mudou, revelando nuvens escuras e pesadas, prenunciando tempestade, em um típico clima de verão, com raios e trovões, não demorando muito para a chuva cair com vontade. A ventania parecia uma bruxa elaborando uma magia, com sussurros e gritos agudos.
E o bebê nasceu exatamente como o clima; bem tenso.
Era para ser cesariana, mas o bebê insistiu em provocar a ira da mãe, nascendo uma semana antes, de parto normal. Luciana estava desde o dia anterior sentindo dores, mas achou que era normal para o estágio em que se encontrava e não havendo melhora, resolveu ligar para Fred e pedir para que ele a levasse até o hospital junto com sua mãe. Luciana não estava preparada, sofreu durante horas com dores e queria terminar logo com aquilo, mas não tinha dilatação necessária para o nascimento. O jeito foi esperar, mas ela estava impaciente demais. Na hora do parto, que só foi feito à noite, as enfermeiras sofriam com o desespero de Luciana, que dava socos e pontapés em quem estivesse por perto. A mãe de Luciana foi convidada a participar do parto, mas preferiu esperar do lado de fora, já conhecendo a filha que tem. Mas Fred se propôs a assistir e com a indiferença da mãe de Luciana, entrou na sala de parto. Fred achou que reconheceria o bebê como seu, quando o visse. Não acreditava que aquele bebê era de Phillip. 
- Vai, Luciana, você consegue, já está quase lá, você é uma mulher forte, faça mais força, que ele já já vai conhecer a mãe. Vamos! - falava Fred tentando animar Luciana.
- Cala essa boca, seu maldito! - berrava Luciana.
- Não sei porque, se estou ajudando você a se acalmar. - mas Fred acabou calando a boca.
Depois de tanto estrangular a mão de Fred, o bebê nasceu. Um menino, medindo 51 centímetros e pesando 3,8 quilos, com uma grande cabeça cabeluda e negra. Luciana desabou o meio corpo e agradeceu aos deuses por dar fim àquela tortura. O bebê foi lavado e verificado pelas enfermeiras e logo depois mostrado a mãe, que deu um breve sorriso olhando para o sexo do bebê e falando que não queria vê-lo tão cedo, pois estava muito cansada, queria dormir por horas.
A enfermeira fez cara de entendida e deixou Luciana descansar por um tempo, mas não muito, uma hora depois ela estava de volta e trazendo consigo o bebê para ser amamentado. Luciana recusou, sonolenta; ainda queria dormir mais um pouco e a mãe de Luciana pediu para dar-lhes mais tempo. A enfermeira saiu impaciente e com o bebê no colo.


Phillip foi avisado do nascimento do bebê e ficou indeciso se visitaria Luciana ou apenas a ligação já seria suficiente. Carolina estava ao seu lado quando receberam a ligação e ela o aconselhou a irem visitá-los. Pelo menos, mostraria que estava preocupado e presente na vida do bebê e que isso não significaria um compromisso com Luciana. 
A maternidade não ficava distante da casa de Phillip e logo chegaram. Foi até o balcão e pediu informação sobre o quarto e o andar. Phillip e Carolina caminharam de mãos dadas pelo enorme corredor do hospital e pararam em frente a uma fila com algumas pessoas ansiosas, esperando o elevador. Phillip impaciente, pegou Carolina pela mão e encaminharam-se para as escadas. Seria mais rápido e eficiente. O quarto de Luciana ficava no terceiro andar e assim que chegaram ao imenso corredor, encontraram a mãe de Luciana olhando pelas janelas, com uma expressão preocupada.
- Olá, Dona Abigail! Tudo bem? - perguntou Phillip fazendo a mãe de Luciana se virar.
- Oi, Phillip, que bom ver você, filho. Não esperava sua visita. - falou Abigail contente.
- Essa é Carolina. - falou Phillip, apresentando as duas.
- Prazer, filha. - falou Abigail dando um beijo em Carolina, que retribui dando um aperto de mão.
- Como está Luciana? Está tudo bem? E o bebê? É menino ou menina?
- Eles estão bem. É um menino! Luciana está exausta, o parto normal acabou com a energia da minha menina. 
- Parto normal? Pensei que seria cesariana.
- Pois é, o bebê quis ser cuspido logo. Acho que não aguentou o estilo de vida de Luciana. - falou em tom triste.
- Como assim? - perguntou Phillip surpreso.
- Muito agitada! - falou Abigail fazendo careta e movimentando a cabeça em direção à porta do quarto.
- O bebê está com ela? - perguntou Carolina.
- Não... Está no berçário.
- Então, nós vamos dar uma olhadinha nele, tudo bem? - perguntou Phillip tocando no ombro de Abigail.
- Vai lá, meu filho. O berçário é na outra ponta do corredor, virando à esquerda.
- Ah! Como ele se chama?
- Theodoro.
- Theodoro? – surpreendeu-se Phillip, achando que iria se deparar com um nome da moda ou algo mais simples, mas realmente, era bem o estilo de Luciana.
- Ah, meu filho, você sabe, Luciana gosta de nomes pomposos e diferentes. Ela acha que esse nome é de gente rica e sofisticada e ela queria que o filho fosse assim. Ela também acha bonito o apelido; Théo. Cansei de ouvir este nome quando ela era criança. Ela falava, brigava, mandava e brincava com um tal de Théo, devia ser um amiguinho imaginário.
- Ela nunca me disse isso. 
- Logo depois passou e não dei muita bola para isso, acreditava que ela tinha esquecido, mas pelo visto não. - Abigail deu um sorriso.
Abigail estava preocupada com o destino de sua filha e da criança. Não sabia o que a filha aprontara e ela estava muito diferente desde então, parecia estar com raiva do mundo e agora com essa tristeza... Ficou com medo. Pelo menos Luciana tinha a mãe, tinha alguém para cuidar dela. E sabia que iria precisar de ajuda. Abigail estava contando que esse filho fosse mesmo de Phillip, apesar de ter simpatizado com Carolina.
Phillip e Carolina encaminharam-se até o berçário e no trajeto, Phillip observou as placas de bem vindo que decoravam as portas dos outros quartos e reparou que Theodoro era o único menino do andar. 
"Bendito é o fruto entre as mulheres. Esse vai sofrer nas mãos das mulheres no futuro", pensou Phillip. 
Pensou também o quanto teria sido melhor se fosse Carolina ali no hospital e não Luciana. Se fosse Carolina que tivesse dado à luz a seu filho, ele estaria imensamente feliz, mas achou que tinha sido injusto pensar nisso, já que a criança não tinha culpa de nada.
Quando chegou à ala dos bebês, Phillip observou um homem na frente do berçário e pensou que já tinha visto aquela cara antes.
- Aquele ali não é o advogado da Luciana? - perguntou Phillip.
- Aquele? Não sei, nunca vi esse cara na minha vida.
- O que ele está fazendo aqui? 
Fred estava com os ombros apoiados no peitoral da grande janela, observando Théo e as outras crianças quando foi surpreendido por Phillip.
- Você é o advogado da Luciana, não é?
- Ele mesmo, como vai?
- Vim ver a criança.
- É aquela. – apontou Fred para a primeira fileira de berços e Théo estava no meio de duas meninas.
- É uma gracinha, Phillip, olha! E grande! - falou Carolina sorrindo.
- Uma belezura mesmo. - Phillip olhou para o bebê que estava enrolado em uma manta vermelha e chupava o dedo, enquanto dormia profundamente. Logo em seguida desviou a atenção para aquele homem moreno e alto e fez mais uma pergunta: - Mas, por que você está aqui? - Phillip estava mesmo intrigado.
- Eu? Luciana me ligou quando começou a sentir as contrações e pediu para trazê-la até o hospital. Dona Abigail veio junto. Simples. - respondeu Fred sem olhar para o seu interlocutor.
- Hmmm, sei. Elas estão bem agora, você já pode ir.
- Não, não, estou esperando Luciana acordar, quero falar com ela.
- Mas ela ainda vai amamentar a criança.
- Eu espero. - falou Fred tentando não se irritar.
Carolina puxou Phillip para um canto e o questionou sobre o seu comportamento.
- Está com ciúmes, Phill? Qual o problema dele estar aqui?
- Não estou com ciúmes, só achei muito estranha a atitude dele, ele é um advogado, não alguém da família. Achei a aproximação indevida.
- Vai ver eles são amigos, você o conhece?
- Conheci no dia da audiência e me pareceu mais um segurança do que advogado, mas tudo bem, não precisa brigar comigo por isso.
- Não estou brigando, já estava ficando constrangedor, por isso puxei você. Vamos voltar para a dona Abigail. - falou Carolina em um sussurro.
- Vamos.
Luciana já tinha acordado e a enfermeira tinha ido buscar Théo para ser amamentado. Abigail estava prestes a entrar quando Phillip a impediu, falando que iria embora, não iria falar com Luciana agora, sabia que ela ia odiar aparecer sem maquiagem, descabelada, com cara de sono e de camisola simples. A mãe concordou com Phillip e desejou que se encontrassem novamente. Deu um abraço em Phillip e um beijo em Carolina e agradeceu a visita.
- A mãe de Luciana é tão diferente da filha... - falou Carolina.
- Muito! Abigail é uma mulher e tanto. Senti tristeza em seu olhar, espero que ela esteja bem.
- Não deve entender o motivo de a filha ter se tornado uma mulher amarga.
- Acho que Abigail está passando por maus momentos com Luciana. Posso imaginar...
- Amor? Quando será feito o exame de DNA? - perguntou Carolina cautelosa.
- Preciso ligar para o Dr. Miguel para saber sobre isso. O quanto antes, melhor!
E o casal saiu do hospital com o bafo quente da noite. A tempestade tinha passado e agora o clima estava bem abafado.
Foi o primeiro dia de tempestade de verão.
Se isso significava alguma coisa, ninguém saberia.


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