17 agosto 2012

37 - Festa

Sábado finalmente bateu à porta.
Phillip já estava calçando seus chinelos quando pensou no presente que daria a Miguel, afinal de contas, tinha que conquistar o cunhado dia após dia. Não tinha irmãos, mas acreditava que se tivesse uma irmã como Carolina, também teria ciúmes. Miguel não aparentava esse sentimento, mas sabia que em seu íntimo sentia um pouco, apesar disso, ele era um garoto gente fina. Phillip gostava muito de Miguel.
Desceu até a cozinha para preparar o café da manhã. Estava sozinho, pois Elena e Constantin saíram para um passeio e observou que já tinha um sanduíche natural na geladeira, esperando o seu dono. Encheu um copo com suco de laranja e comeu ali mesmo seu sanduíche, em pé, na cozinha. Ainda estava pensando no presente. Olhou pela janela da cozinha e viu alguns garotos brincando na calçada, com suas bicicletas.
"Já sei! É isso, perfeito! Acho que Miguel não tem uma bicicleta, bem, pelo menos não quando conheci sua casa, não vi nenhuma.", pensou Phillip.
E pensou em outra coisa também, mas essa seria para mais tarde. Phillip foi até seu quarto, colocou uma calça jeans, um tênis e uma camisa branca com estampa referente à evolução da espécie. Ligou para Carolina, para dar-lhe bom dia e ouvir sua voz e saiu para comprar o presente de Miguel.
Já sabia onde comprar e foi direto para a loja. Comprou uma bicicleta própria para a idade dele, na cor azul marinha, sabia que era a cor preferida dele e pediu para que fosse entregue na casa de Miguel, junto com um bilhete de aniversário. Phillip ficou feliz com a compra e iria agora, dar uma olhada no seu segundo pensamento do dia.
Carolina já estava toda atrapalhada com a organização do aniversário de Miguel, acordara cedo para colocar a mão na massa. Júlio saíra para as compras de emergência junto com Miguel. Carolina não queria Miguel em casa tão cedo, sabia que ele queria ajudar, mas sempre atrapalhava no final das contas.
Miguel ganhou de Carolina um tênis de cano baixo verde escuro com desenhos de caveiras e guitarras, no estilo rock star. Não precisa dizer que adorou. Seu pai, Júlio, deu-lhe um jogo de estratégica que fez Miguel prometer que reuniria os amigos para uma partida, não no dia da festa, mas outro dia qualquer.
Carolina estava ajeitando os móveis, fazendo com que os amiguinhos de Miguel ficassem a vontade. Ajeitou alguns jogos para eles colocarem na televisão e fez uma limpa na casa, passando a vassoura e tirando as poeiras dos móveis. Depois tomou um banho e foi para a cozinha preparar os doces para a festinha. Não ia muita gente, seriam apenas Carolina, Phillip, Júlio, Miguel, Sara, Otto e os cinco amigos da escola. Uma menina estava no meio. Miguel declarara a Carolina que era apaixonado pela garota, de nome Suzana. Não falou exatamente com essas palavras, mas Carolina sabia, ele não parava de falar nela. 
"Ah, meus 11 anos, lembro como se fosse hoje, do garotinho quem eu era apaixonada, era tão tímida e ele tão brincalhão, vivia fazendo brincadeiras comigo por eu ser tímida, mal imaginava ele que eu era tímida por causa dele... Como eu era bobinha", pensou Carolina.
Carolina já estava terminando os doces quando Miguel e Júlio chegaram da rua. Júlio trazendo os últimos pedidos da filha e Miguel todo faceiro, pois no caminho, ganhou uma roupa nova do pai para que usasse na festa.
- Hmmm, quero ver o aniversariante todo perfumado e bonito, hein? Vai ficar bonito para a Suzana? - brincou Carolina.
- Ah, para! Eu vou para o banho agora então! - saiu Miguel correndo e fechando a porta do banheiro.
- Acho bom! - riu Carolina.
- Enquanto eu, vou enfeitar o circo, pode ser? - falou o pai, segurando uma grande sacola.
- Claro pai, já está quase na hora dos coleguinhas chegarem!
Dito e feito, logo depois que terminou de ajeitar os doces nas travessas, a campainha tocou. Era a mãe de um menino, deixando o filho e indo embora logo em seguida.
Miguel estava em seu quarto se arrumando e Júlio fez companhia para o menino que estava envergonhado de ter sido o primeiro a chegar. Miguel adentrou na sala, com o cabelo ainda molhado e penteado todo para trás, uma camisa vermelha com estampa de personagens de um jogo, bermuda jeans e o tênis verde escuro rock star. Assim que viu o amigo, fez uma saudação jovial e sentou-se com ele no sofá.
Júlio então voltou para a decoração da sala enquanto Carolina já estava no banho.
A campainha tornou a tocar e desta vez era o entregador solicitando a presença de Miguel Lima de Sá. Miguel e o amiguinho se entreolharam e foram até o rapaz que estava com uma caixa imensa do lado de fora do apartamento. Júlio assinou o documento de entrega e liberou o rapaz, que fez cara de tédio quando percebeu que tinha ido embora sem nenhuma gorjeta.
Miguel ficou maravilhado com o presente, já teve uma bicicleta quando era menor, com rodinhas e depois foi perdendo o interesse, tornando a se interessar a pouco tempo em adquirir uma. Achou a cor bonita e o modelo também. Estava eufórico e leu o bilhete em voz alta.
"Para o meu irmão cunhado, uma maneira de ver a vida a duas rodas. Que você tenha ótimas recordações com essa magrela e me conte depois, pois sou curioso! Feliz Aniversário! Abraço, Phillip".
- Quem é Phillip? - perguntou o amigo curioso.
- É o namorado da minha irmã. - falou Miguel sorridente.
- E onde está sua irmã? 
- Estou aqui! - falou Carolina surgindo com uma camisa bege de seda com bolsos na frente, short jeans, uma sapatilha laranja e um brinco de pedra da mesma cor. Estava se sentindo a vontade e feliz. Deu um beijo no rosto do irmão e do amigo. Ficou feliz com o presente de Phillip e fez Miguel prometer que andaria sempre, pois era um ótimo exercício.
Os outros amiguinhos começaram a chegar e logo depois, Otto e Sara e a caixa de presentes foi aumentando.
Carolina ficou feliz por ver sua amiga feliz e por Otto também. Realmente, aquele cara que conhecera tinha ficado no passado, bom para ela, bom para todos nós.
Carolina e Sara foram para a cozinha bater papo e arrumar outra travessa para os salgados. 
- Cadê seu namorado? - perguntou Sara.
- Chegando a qualquer momento! - falou Carolina enchendo alguns copos com refrigerante.
Otto chegou à cozinha e fez a mesma pergunta à Carolina, que emendou:
- Sei não... Mas pelo o que conheço de Phillip, ele está aprontando alguma coisa. - falou Otto mexendo o dedo indicador em direção ao léu.
- Você acha, Otto? - perguntou Carolina absorta.
- Tenho certeza!
- Hmmm, então é melhor eu conferir.
- O que? - perguntou Sara.
- Vou ligar para ele e perguntar onde se enfiou.
Não era preciso, quando Carolina já estava quase alcançando o celular na bancada da cozinha, a campainha tocou. Os três se entreolharam e deram um sorriso cúmplice. Olharam para o relógio e Phillip tinha se atrasado quarenta minutos.
Carolina abriu a porta e deu de cara com um Phillip sorridente, mas um sorriso bastante misterioso.
- Olá, meu amor! Minha vida! - Phillip a abraçou e deu-lhe um beijo bem apertado.
- Olá!!! - falou Carolina erguendo as sobrancelhas. - Quanta felicidade! 
- E não é para estar? Estou feliz! Cadê o pirralho? 
- Antes, vá falar com seu amigo que já chegou há tempos! - falou Carolina mordaz.
- E cadê ele? 
- Na cozinha com Sara!
Foi Phillip para a cozinha, cumprimentando efusivamente Otto e dando um beijo no rosto de Sara. Os três bateram papo e foram para a sala. Phillip deu um abraço em Júlio e depois foi ao encontro de Miguel, felicitando-o pelo aniversário e perguntando se tinha gostado do presente. Com a afirmação, Phillip resolveu ir para perto de Carolina e esperar um pouco para que os amigos de Miguel curtissem mais da reunião.
Meia hora depois olhou para o relógio e viu que era a hora do show, não podia demorar muito e comunicou aos presentes que os meninos iriam para outro lugar e quem quisesse que os acompanhassem.
Todos ficaram surpresos e os meninos excitados. Carolina olhou com cara feia para Phillip e logo depois sorriu, não adiantava lutar contra Phillip, quando ele inventava alguma coisa a única opção era aceitar.
Todos resolveram seguir Phillip, menos Júlio, que preferiu ficar em casa comendo todas as guloseimas do aniversário, mas levou um pito quando Carolina o obrigou a ficar longe, pois todos iriam voltar e principalmente as crianças.
Phillip levou os meninos em seu carro enquanto Carolina foi no carro de Otto. 
- Para onde você está nos levando? - perguntou um menino gorducho.
- Surpresa! - falou Phillip.
- Será que vai demorar? Preciso ligar para a minha mãe. - falou o outro.
- Sua mãe nem vai precisar saber, bem, não agora, depois você conta. - falou Phillip tranquilizando o menino.
- Para de ser mané! - berrou Suzana.
- Podem confiar no Phillip, ele não vai levar ninguém a cometer crimes.  É meu aniversário! - falou Miguel animado.
Chegaram a um lugar plano, de chão de terra batida e estacionaram os carros em frente a uma entrada baixa de túnel com paredes feitas de lona preta.
Ainda no carro, os meninos gritaram:
- PAINTBALL!!!*
Os meninos começaram a rir, mexendo com as mãos querendo sair logo do carro e Phillip só ria.
Carolina saiu do carro e foi falar com Phillip:
- Só você mesmo, hein? Que barato, os meninos vão adorar! - abraçou Phillip.
- E você também! 
- O que? Eu? - Carolina ficou admirada.
- Sim, senhora, você também vai participar, é uma brincadeira para adultos também.
- Mas eu nem estou com roupa apropriada!
- Não tem problema, eles dão roupas justamente para não sujarmos as nossas, invente outra desculpa.
- Eu vou precisar ir também? - perguntou Sara.
- Lógico! Ou você quer ficar sozinha aqui fora com os mosquitos? - debochou Otto.
- É, acho que não temos escolha, Sarinha. - falou Carolina. 
- Fomos vencidas dessa vez, mas terá revanche! - protestou Sara.
- Sim, senhora! - Carolina levantou o braço e bateu sua palma da mão contra a de Sara, em um cumprimento conluiado.
Entraram e um rapaz caracterizado com uma roupa camuflada os atendeu e explicou que um dos juizes fará uma palestra sobre segurança e regras do jogo. O rapaz entregou a cada um os equipamentos necessários para a brincadeira; calça, blusa de mangas longas, colete de proteção, máscaras, capacetes, armas e munições, as tintas, no caso.
Todos caracterizados e limpinhos, hora da fotografia!
Os meninos fizeram poses com as armas de brinquedo e as meninas apontaram as armas em direção aos garotos, em uma guerra declarada de menino x menina.
O juiz do jogo anunciou que as regras eram simples; foi atingido, ponto para o adversário. A equipe que conquistar mais pontos é a grande vencedora. 
- E vamos para o combate! - bradou o juiz.
A equipe foi dividida assim: Carolina, Sara, Otto, Suzana e Rodolfo, o menino gordinho e bochechudo de um lado e Phillip, Miguel, Dov; um menino de cabelos compridos e ondulados, Marco; o menino que está sempre dando tapas e socos inconvenientes nos outros amigos e Samuel; um menino cordial e um pouco estabanado, melhor amigo de Miguel, do outro lado.
Começando o jogo, a equipe se dividiu no lugar amplo, contendo alguns obstáculos, como árvores, pequenos cercos de madeira para proteção e enormes barris.
Com tantas barricadas e mesmo assim, Rodolfo, o menino gordinho, foi o primeiro a ser atingido em cheio no peito colorindo seu colete de um azul berrante, desfalcando o grupo de maioria menina. Rodolfo saiu chateado, resmungando e seu rosto estava cheio de gotículas de suor caindo pelas bochechas.
Carolina e Phillip travavam uma briga para ver quem era atingido primeiro, mas os dois se safavam sempre. Otto era o terrorista do grupo, queria pegar os meninos e fazer todos de refém primeiro, para depois serem alvejados por tinta amarela. O primeiro foi Samuel, seguido por Dov. Otto os pegou pelo braço e pediu para ficarem em frente a uma barricada, sendo massacrados pelo gatilho nervoso de Otto.
Sara que estava próxima, gritou:
- Quanta maldade, Otto, deixa os meninos, já estão 'mortos'. 
- É apenas brincadeira, Sara, se reclamar atiro em você também!
- Saí pra lá! - correu Sara para uma árvore a fim de se proteger dos golpes de Miguel.
Suzana, a menina loirinha e de personalidade forte foi atrás de Miguel, procurando por toda a extensão do campo, mas foi terrivelmente surpreendida pelo mesmo, atirando bolinhas de tinta rosa em meio as suas costas. Suzana deu um berro e se virou, olhando para Miguel que ria faceiro.
- Isso foi covardia, não se atira no inimigo pelas costas! - e saiu correndo a fim de atirar com sua arma em
Miguel, acertando em suas pernas, mas como não estava valendo, ela já estava eliminada, Suzana foi para a área de espera resignada.
Phillip se escondia mais que atacava, queria sair ileso, mas Otto era mais grosseiro, atirava a esmo, pois sabia que podia aparecer alguém. Quando Otto ouviu um barulho no meio do matagal, atirou e era Sara.
- Caramba, Sara, quase atiro em você! - riu Otto.
- Bem, estou procurando por Miguel e Phillip, mas não os encontro.
- Então vamos pegar aquele garoto ali! - falou Otto apontando para Marco, que não tinha visto os dois de tocaia.
Marco foi logo alvejado por tinta vermelha e amarela, e por dois ao mesmo tempo, sem dó nem piedade e em vez de ficar zangado, Marco começou a rir e se jogou no chão de mata batida fingindo estar gravemente ferido. Otto e Sara o pegaram pelos braços e o levaram para fora do campo.
- Menos um! - riu Otto.
- Ai, isso dá até medo, parece que estamos mesmo em perigo. Brincadeira estranha! - reclamou Sara.
- Eu estou achando muito divertido, podíamos colocar nossos desafetos, que seria ainda mais engraçado.
- Eu hein, aberração! - falou Sara assustada. 
Otto riu e correu para se proteger, fazendo o mesmo Sara.
Phillip apareceu de supetão atingindo em cheio Sara na cabeça! Sara deu graças a Deus por ter saído daquela brincadeira, pois já se sentia exausta de tanto corre-corre.
Do outro lado, Carolina corria, passando por um lago de água escura, procurando por um alvo. Avistou uma pessoa pequena e imaginou que seria um dos garotos, fez mira e atirou, acertando no ombro direito de Miguel. Carolina saiu correndo em sua direção e achou graça quando viu o irmão sentado na mata.
- O aniversariante não vale! - falou Miguel dando uma careta.
- Vale sim! Fora do jogo, pirralho! - falou Carolina rindo.
Carolina encontrou Otto emboscado em uma árvore, esperando a próxima vítima.
- E aí, onde se meteu Phill? - perguntou Carolina de mansinho.
- Estou na busca por ele, já alvejei a maioria. 
- E Sara? Cadê?
- Morta! E cansada! - riu Otto.
Phillip apareceu de mansinho e apesar de tanto cuidado, o barulho das folhas o dedurou, fazendo Otto e Carolina se prepararem para o ataque. E assim que os três se olharam, uma grande batalha começou. Phillip começou a atirar forte enquanto Otto e Carolina também. Ficaram um bom tempo tentando ver quem caía primeiro, mas Otto foi mais rápido, dando um tiro de bolinha amarela na barriga de Phillip, sendo logo atingido pelas bolinhas de tinta verde de Carolina. Carolina vibrou junto com Otto, fazendo um cumprimento. Phillip foi ao encontro deles, mas como era tudo uma brincadeira, atirou contra os seus carrascos. Ficaram que nem crianças, atirando um contra o outro, fazendo o uniforme ficar todo sujo e colorido.
- Pronto, diversão nota 10! - falou Phillip.
- Muito divertido, adorei! - emendou Carolina.
- Temos que vir mais vezes, bora chamar o povo do trabalho! - Otto estava animado.
- É uma boa, pelo visto você se divertiu mais que as crianças. - observou Phillip.
- Cara, sempre tive vontade de vir em um lugar como esse. É bom demais! - sorriu Otto.
- Vamos ao encontro da turma. - falou Carolina por fim.
De novo a turma se reuniu para tirar uma foto, agora todos sujos e coloridos pelas tintas.
Foram ao banheiro, tirar as roupas e tomar uma ducha rápida. Já era quase oito horas da noite e ainda tinham que voltar para a casa, cantar os parabéns e desfrutar dos salgados e doces.
O pessoal se dividiu nos carros e foram contando os detalhes da guerra, tudo muito confuso, pois os meninos queriam contar tudo ao mesmo tempo.
Assim que chegaram, Miguel correu para contar a novidade ao pai, que ficou satisfeito pelo filho.
Carolina foi rápido até a cozinha buscar o bolo e o colocou na mesa. Para espanto e alegria de Miguel o bolo tinha forma de pneu e em cima um carrinho de fórmula 1 com uma bandeira quadriculada branca e preta. O bolo era feito de chocolate e os amigos acharam o maior barato e queriam logo cantar os parabéns para comê-lo.
Miguel tirou fotos com os amigos ao redor do bolo e depois todos se reuniram no sofá, sentados e em pé atrás do mesmo para mais uma foto. Colocaram a máquina fotográfica num tripé e no automático. Phillip saiu correndo e ficou ao lado de Carolina e Miguel, juntamente com Júlio, terminando assim aquele dia que ficará guardado na memória de Miguel e da turminha nota 10!
"Os momentos mais felizes daquela época foram aqueles em que pude passar com minha família e amigos.", relembraria mais tarde Miguel.



* Jogo divertido de combate onde se usa arma de ar-comprimido que atiram bolinhas de tinta biodegradável, em um campo com obstáculos como cenário.

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