07 agosto 2012

50. Canção Final




No finalzinho da tarde, quando o sol já estava indo embora, Carolina dobrava algumas peças de roupa que secaram no varal naquela manhã, quando Cecília apareceu para saber se a avó estava livre para conversar. Na verdade, Cecília queria saber sobre mais histórias da avó e notando que Cecília esperava alguma resposta; perguntou:
- Quem são seus amiguinhos, Cissa? - perguntou Carolina deixando as peças de roupa de lado e fazendo Cecília se sentar ao seu lado.
- A Clarinha e o Marco. 
- O Marco é seu namoradinho?
- Não, vó! Ele é meu amigo. Eu gosto do Arthur, mas ele não dá bola para mim.
- Como não? Uma menina tão bonita e legal como você.
- Ele fica implicando comigo, falando que tenho sardas, que meu cabelo é estranho. Sou estranha, vó?
- Que nada, minha neta, você é uma criança linda e saiba que ser diferente não é anormal, aliás, ser diferente é bem legal.
- É? Por quê?
- Por que você não é igual a todos, pois ninguém é igual a todo mundo e você demonstra mais abertamente isso, por ser diferente fisicamente. Você é privilegiada, não fique triste por isso, não ligue para as piadinhas. Quando alguém fizer piada com você, fale que você se ama assim e que jamais mudaria para agradar os outros. Confiança é contagiante, minha neta. Se você confia em você mesmo, tudo dará certo e as pessoas vão começar a perceber que elas estavam erradas em ignorar isso. Acima de tudo, você precisa se amar!
- Eu me amo, vó. Gosto dos meus cabelos e das minhas sardas.
- Claro que sim, não tem porque não gostar. Você é linda, inteligente e muito espertinha. - falou Carolina dando um abraço na neta. - E acho que o Arthur só brinca com você, porque ele gosta. Ele não perderia o tempo dele brincando com alguém de quem não gostasse.
- Será, vovó?
- Eu acredito nisso, mas não fale isso para ele. Ele mesmo vai descobrir mais cedo ou mais tarde. - falou Carolina, dando uma piscadela.
- E você, vovó? Teve muitos amigos?
Carolina lembrou-se das conversas no meio do expediente com Celso e Sara e das muitas risadas que davam. Das pegadinhas que as meninas aplicavam em Celso. Lembrou-se também de quando Sara comprou uma lagartixa de brinquedo, colando com fita durex e a colocando na parede do banheiro masculino. Celso tinha verdadeiro horror à lagartixa e assim que pisou no chão do banheiro, as duas ouviram um grito assustador e foram correndo até lá e viram um Celso paralisado, sem conseguir sair do lugar. Sara e Carolina riram e depois se sentiram culpadas e estúpidas e contaram que era apenas um lagartixa de borracha. Depois desse incidente, Celso se vingou, colocando sal no café das meninas. Muito sal. Depois de rir com as lembranças, Carolina falou:
- Tive muitos amigos sim, mas os que realmente me acompanharam nessa vida, foram Sara, Luca e Celso. Sarinha é uma amiga incrível, trabalhou comigo durante anos na Biblioteca, ainda trabalha, ao meu lado. Você sabia que eu e seu avô fomos cupido uma vez?
- Cupido?
- Sim, juntamos Sarinha e o Otto e deu certo.
- Que legal, vó! E eles estão juntos agora?
- Sim, estão juntinhos, tiveram dois filhos logo depois da gente, mas ainda não tiveram netos. Sara está doida para ser avó.
- Por que ela ainda não tem netos?
- Sara e Otto casaram-se antes da gente, moraram em uma casa que Sara não gostava muito...
- Por que ela não gostava muito?
- Longa história, essa eu conto para você depois, tá bom?
- Então tá, continua...
- Eles ficaram um bom tempo morando nesta casa e só depois de alguns anos conseguiram comprar um apartamento só para eles. O primeiro filho de Sara nasceu quando Olívia já tinha 5 anos. E a segunda, desta vez uma menina, nasceu quatro anos depois. Sara só queria ter filho quanto tivesse sua própria casa. O marido dela, Otto, é o melhor amigo de seu avô. Você já os conhece, já foram em suas festinhas de aniversário.
- Não me lembro, vovó.
- Tá certo... No Natal eles vão estar aqui e você vai lembrar-se deles.
- Oba! E vovó, você trabalhava com o que?
- Eu ainda trabalho, meu bem. Sou bibliotecária, cuido dos livros para as pessoas que gostam de ler. Elas vão à Biblioteca, escolhem um livro e levam para a casa. Outros preferem ler no local. Depois que a diretora da Biblioteca faleceu, eu me tornei a diretora e Sarinha ficou como gerente. Estamos lá até hoje.
- Adoro livros! Quero ser bibliotecária também e trabalhar com você, vovó.
- Eu ia adorar! - falou Carolina rindo.
- Meu outro amigo, o Celso também trabalhava lá, mas já se aposentou. Foi morar em Portugal, a convite de um amigo. Ele está sempre me mandando cartas e cartões postais. Está sempre em contato. Acho que ele não volta mais.
- Você está triste, vovó?
- Não, ele está feliz lá, mas sinto saudades do meu amigo.
- Sinto saudade do Arthur. - falou Cecília olhando para os pés, tristonha.
- Ahh, mas logo logo você o verá! - sorriu Carolina fazendo Cecília corar as bochechas.
- Faltou outro amigo. - falou Cecília atenta.
- Ia falar dele agora. O Luca... Luca, amigo divertido e agitado. O sonho dele era ser ator, fez curso de teatro, abraçava cada oportunidade que surgia. Fez cada coisa e nada o desanimava, era divertido os 'causos' que contava. Estávamos sempre nos encontrando para bater papo.
Luca sempre chamava Carolina e Phillip para as suas estreias no teatro e o casal sempre ficava nas primeiras fileiras, depois iam ao seu encontro no camarim parabenizá-lo. Luca sempre se sentia eufórico e vibrante ao fechar das cortinas e Carolina gostava desse sentimento, a deixava feliz. 
Carolina voltou ao presente ao ouvir Cecília perguntar:
- E agora, como ele está?
- Ele virou um ator muito talentoso e respeitável. Você nunca ouviu falar em Luca Valmey?
- Não... - falou Cecília sem graça.
- É porque você é muito novinha ainda. Ele começou atuando no teatro, fez alguns filmes no cinema e depois foi para a televisão, no qual é muito conhecido. Atualmente está fazendo uma série para a TV.
- Ele se casou? Tem filhos?
- Nunca casou, mas sabe? Ele tem alguém sim, alguém que o ama muito. Adotou uma criança, que planeja seguir a carreira artística, está tentando, pelo menos. Ele ainda é bastante novo.
- Tem quantos anos?
- O Cristian está com 18, um garotão bonito, alto, vai fazer sucesso como o pai e eu fico na torcida.
- Eu também, vó!
- Bem, agora deixa a vovó dar uma olhada na sua bisa, pois está na hora do seu banho.
- Quer ajuda?
- Quero, mas em outra coisa. Coloque água fresca para o Ellus e encha o pote de ração, você faria isso, meu bem?
- Claro! - falou Cecília correndo em direção aos fundos da casa, toda feliz.
Depois do jantar oferecido por Pedro, um nhoque de ricota com brócolis e molho de tomate, Olívia foi até a mãe pedir para terminar de contar as histórias, pois Cecília estava insistindo muito nisso.
Enquanto Pedro e Olívia tiravam a mesa e Phillip colocava a comida de Ellus na cumbuca, Carolina passou um café. 
Greta, a empregada da casa e esposa do caseiro, era também filha caçula de Ivete, que fora babá de Phillip e governanta da casa de Elena, estava de folga, fazendo Olívia se oferecer para lavar a louça. 
Quando todos estavam livres de seus afazeres e o café já estava passado e em suas respectivas xícaras, a família se reuniu na grande sala do sítio para mais uma sessão de histórias do passado.
Phillip e Carolina sentaram-se em poltronas separadas próximos um do outro. Carolina carregava Cecília em seu colo e Ellus acomodava-se aos pés de Phillip, para tirar uma soneca. Olívia sentou-se no sofá de frente para eles, enquanto Pedro sentava-se no largo braço do sofá, apoiando o braço por cima de Olívia. Elena tirava um cochilo em seu quarto.
Cecília estava empolgada, segurava um álbum de fotos e perguntava por cada foto vista, quando apontou para uma em que um garoto magrelo, de cabelos encaracolados e negros, abraçava um cachorro marrom.
- Quem é vovó? - perguntou Cecília.
- Me deixa ver... - falou Carolina virando o álbum para si. - Hmmm, esse é meu irmão Miguel e o cachorro é o Bento, que era do seu avô. 
- Que lindo!
- Quem? O cachorro ou o Miguel? - riu Phillip.
- O cachorro, vô! - falou Cecília sem paciência.
- Foi no Natal, olha como Bento estava elegante, de gravatinha borboleta.
- Ele já morreu?
- Ah, já sim, meu bem, já se passou muito tempo.
- Mãe, lembra uma vez que a dinda Sara foi na casa do vô Constantin e o Bento estava proibido de entrar em casa porque tinha pisado na lama? - lembrou Olívia com voz risonha.
- Lembro! - Carolina já estava querendo rir.
- Então, Cissa, o Bento apareceu do nada. Ele estava na casinha dele que ficava no quintal e se soltou da coleira, avançando na dinda Sara e colocando as patas bem nos peitos dela. A dinda estava tão distraída e foi tudo tão rápido que ela levou um susto. Ela estava com uma blusa branca e ficou com a marca das patas do Bento cheio de lama. - riu Olívia, fazendo todos rirem.
- A Sara ficou bem brava com aquilo, achou que tinha sido ideia do Otto. Coitado do Otto, ficou tão nervoso quanto ela! - riu Carolina.
- Eu não sabia se ria ou segurava o Bento. - falou Phillip. - Mas acabei segurando o Bento, antes que a tragédia fosse pior... 
- Tadinha!!! - falou Cecília, imaginando a cena. - Mamãe, por que você fala dinda Sara?
- Por que a Sara é minha madrinha, assim como tio Miguel é meu padrinho. E eu a chamo de dinda que vem de madrinha.
- Ahh tá. Então eu posso chamar a tia Regina de dinda?
- Claro que sim, filhota! Ela é sua dinda! E o dindo Jorge também.
Regina era irmã de Pedro e Jorge era seu marido. O casal adorava Cecília e a mimavam o quanto podiam, pois seus filhos já eram adultos e sentiam falta de uma criança por perto.
- Mãe, você falou para ela porque a dinda Sara relutou em ir morar naquele apartamento? - perguntou Olívia.
Carolina olhou para Phillip e deu uma reprimenda em Olívia com o olhar, não queria falar sobre Luciana para sua neta, relembrar aquela história era maçante. Mas talvez fosse melhor contar sua versão, mesmo que todas as versões fossem iguais.
- Bem, Sara relutou porque aquele apartamento era de seu avô e antes de ele me conhecer, ele fora casado.
- Casado? - espantou-se Cecília.
- Não é bem assim... Eu morei junto com alguém. Ah, isso não é conversa para uma menina da sua idade. - falou Phillip, fazendo Olívia rir.
- Voltando... Seu avô namorou uma mulher desagradável, separaram-se e depois de um tempo ele me conheceu e estamos juntos até hoje. Sara não gostava da ex-mulher do Phillip e achou que fosse dá azar morar no apartamento, mas como Otto insistiu, ela permaneceu. Para você ver, nada aconteceu a eles, superstição é bobagem. 
- Mas e a ex do vovô, cadê ela? - perguntou Cecília curiosa.
- Bem... Nunca mais vimos a Luciana. - falou Phillip. - Mas sabemos alguma coisa dela.
- E o que é? Como ela era?
Cecília estava realmente curiosa, Olívia e Pedro também. Olívia sempre puxava esse assunto quando estava com Sara e Otto, mas sua mãe, Carolina era sempre evasiva e não dava muitos detalhes, talvez agora fosse diferente, queria saber detalhes daquele romance que não vingara e o motivo de sua mãe ter tanta cautela.
- Luciana aplicou o golpe da barriga em seu avô, Phillip. Ela se dizia grávida para fazer com que eu e seu avô nos separássemos. Ficamos durante meses inseguros sobre isso, achando que nosso namoro fosse terminar por influência dessa gravidez. Ela fez de tudo para isso, mas o resultado final foi que na verdade o filho que ela esperava era de seu advogado, Fred, e que se relacionavam há anos, antes mesmo de ela conhecer o seu avô. Bem capaz de ela ter o traído. 
- Acho que é muito para a cabecinha dela, meu amor. - falou Phillip.
- Mas não é isso que Olívia e Cecília querem saber? - sorriu Carolina. - Saiba, Cissa, que nem todas as pessoas são maldosas e querem o nosso mal, você vai conhecer muita gente em sua vida e sei que vai saber separar as pessoas que querem fazer mal, das que apenas querem ficar ao seu lado por gostarem de você. Nós tivemos uma pessoa assim em nossas vidas, mas soubemos lidar com ela com paciência. Em alguns casos reconheço que a vontade era de dar-lhe vários tabefes. - riu Carolina nervosa. - Mas soubemos contornar isso tudo com muita união, pois seu avô sempre acreditou em nosso amor e sabia que nada abalaria isso.
Cecília estava séria e atenta a tudo o que sua avó contava, enquanto Olívia balançava a cabeça concordando com tudo o que ouvia.
- Caramba! Acho que isso teve uma parcela positiva. Phillip sabia quem ele realmente queria, o negativo é de ter lidado com uma pessoa assim por anos e descobrir sua real face depois. Coisa de filme! - falou Pedro, um rapaz simples e conciso em seu modo de ser. Tinha a pele clara, cabelos castanhos raspados nas laterais, com um pequeno topete baixo e uma rala barba por fazer. Apesar de se mostrar sério e calado em alguns momentos, era bem sociável e divertido.
- Sim, Pedro. Desde o primeiro dia em que vi Carolina, soube que era um encontro de almas. E Luciana sempre mostrou ser uma pessoa maliciosa, mas não queria acreditar.
- E o que aconteceu a Luciana? - perguntou Pedro colocando os dedos na boca e apertando os lábios.
- Bem, Luciana se casou contra a vontade com Fred, pois como ela tinha perdido o emprego e, não tinha mais como pedir a metade do apartamento onde viveu com Phillip e a pensão que pedia na justiça não foi em frente, o único jeito de sobreviver com uma criança, era se casar com o pai da criança. - frisou Carolina. - Eles ficaram pouco tempo juntos...
- Nem Fred aguentou aquela pessoa! - falou Olívia.
- Não, nem ele aguentou. Mas depois de Fred vieram outros maridos e outros filhos. Cada homem que se relacionava ela fazia um filho, na esperança de ganhar várias pensões, mas ela sempre teve o azar de se relacionar com mentirosos. Viviam de fachada e na verdade tinham uma vida vazia, querendo sustentar algo que não condizia com a verdade.
- Quantos filhos ela teve? - perguntou Olívia, debruçada nas almofadas.
- Depois de Theodoro, ela teve mais três filhos. Todos garotos problemas. Somente Theodoro deu orgulho para a mãe. Dona Abigail, que era mãe de Luciana, ligava para Phillip para contar as novidades e soubemos dele até os seus quinze anos, depois disso não sabemos mais nada, pois Dona Abigail morreu. Sempre fora um menino estudioso, nunca teve qualquer problema, queria ser advogado como o pai, mas os outros filhos...
- Theodoro deve ter quase a mesma idade que eu. - falou Olívia.
- Sim, minha filha. Ele é apenas um ano mais velho que você. Fred separou-se dela e casou-se com uma jovem rica, aliás, a riqueza vinha do pai que era um grande empresário, deixando Luciana furiosa, mas ele gostava do filho e sempre o visitava. Os outros pais sumiram no mundo, deixando Luciana sozinha com as crianças.
- Acho que ela teve o que mereceu. - falou Pedro, franzindo a testa.
- E mesmo assim não aprendeu com os erros. 
- Os ex-maridos nem pensam em tirar a pensão dos filhos, que já são adultos, pois ela é uma pessoa totalmente incapaz. Nunca trabalhou na vida e é muito instável. - falou Phillip.
- Como você soube disso, Phill? - perguntou Carolina desconfiada.
- Otto me contou. Disse que conhecera um rapaz que era filho do primeiro casamento de um dos ex-maridos dela.
- Uau! Que mundo pequeno!
- Por isso, Cissa, nunca dependa de ninguém, tenha sempre o seu ganha-pão, seja sempre independente financeiramente, estude e continue esse doce de menina! - falou Olívia levantando-se do sofá e indo beijar a filha.
- Sim, mamãe, já falei para a vovó que vou trabalhar em uma biblioteca igual ao dela!
- Isso aí, filha, papai vai ficar muito orgulhoso de você. - sorriu Pedro.
- Vovó, você já ganhou muitos presentes do vovô?
Surge um sorriso nostálgico em Carolina, que se lembra do dia em que ganhara o colar de coração alado de Phillip e responde que o usa até hoje, mas que não tinha levado para a viagem, preferindo deixá-lo em uma caixinha de joias em cima da penteadeira, bem guardado. Todo dia ao acordar e pentear os cabelos, ela olha para a caixinha de vidro acolchoada e sorri ao colocá-lo em seu pescoço. Às vezes tem a ajuda de Phillip e nesse momento eles sempre se recordam do passado.
Phillip deu outras joias ao longo da vida, mas essa tem um lugar especial em seu coração.
Depois disso, a família conversou sobre outros assuntos noite adentro e com o passar das horas, Carolina percebeu que Cecília dormia em seu colo. Vendo Olívia se levantar para levá-la até sua cama, Carolina levantou o dedo indicador fazendo um gesto pedindo silêncio e ela mesma levou a neta para o quarto.
Assim que a menina é colocada na cama, Carolina acaricia seus cabelos ruivos, admirando sua face angelical e fala baixinho:
- Eu te amo.
Cecília abre os olhos lentamente e responde com voz de sono que também a ama muito, fazendo Carolina sorrir com ternura. Cecília pede a avó para cantar uma canção para fazê-la dormir novamente, e é então que Carolina começa a cantar baixinho:


"Eu vivo a vida cantando...
Ai Lili ai Lili ai Lou...
Por isso sempre contente estou
O que passou, passou
O mundo gira depressa
E nessas voltas que eu vou
Cantando a canção tão feliz que diz...
Ai Lili ai Lili ai Lou
Por isso é que sempre contente estou
Ai Lili ai Lili ai Lou."







~ Fim ~








"Saudade é uma coisa que não tem medida,
é um vazio que a gente só pode preencher com a lembrança."
Irene de Albuquerque

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