11 setembro 2012

23 - Grito Preso



Assim que saiu da audiência, Phillip ligou para Carolina e contou uma parte do que aconteceu. A outra ele iria contar pessoalmente, mais tarde. Iria buscá-la na biblioteca, queria levá-la a um lugar diferente. Queria extravasar essa raiva que estava sentindo. Carolina concordou e faria companhia no extravaso.
Era 16.30h quando Phillip saíra da audiência. Foi até o escritório para pegar um embrulho e saiu, não queria mais trabalhar hoje, estava emocionalmente exausto. E como Carolina já estava quase saindo do trabalho, resolveu ir até lá, esperá-la dentro da Biblioteca e ver com seus próprios olhos o tal moreno bonitão que Luciana falara. 
"Moreno bonitão... hãm", pensou Phillip.
Chegou silencioso, pois queria fazer surpresa para Carolina, mesmo sabendo que eles iriam se encontrar, mas ela não precisava saber disso. Mas o plano não deu certo, um sino dos ventos estava preso à porta e assim que entrou, todos olharam para Phillip. Carolina que estava de costas para o balcão, virou-se para olhar quem entrava e abriu um sorriso quando viu que era Phillip.
- O sino me dedurou, hein? - falou Phillip sem graça.
- Carol resolveu colocar esse sino depois que recebemos uma visita não muito agradável. - respondeu Sara fazendo bico com a boca.
Do nada o 'moreno bonitão' apareceu e comentou:
- Na minha terra esse sino é chamado de espanta espíritos e eu acho que a finalidade era essa, né, carinho? - falou Celso olhando para Carolina.
- Justamente!
Phillip só observava. Carolina se tocou que não tinha apresentando Phillip a seus amigos e não perdeu tempo.
- Meu bem, esses são meus colegas e amigos, Sara e Celso. - frisou Carolina.
- Oi, prazer em conhecê-los! - falou Phillip apertando as mãos de Sara e Celso.
- Eu já o conheciade tanto que Carol fala! - falou Sara.
- Ela não para de falar em você, carinho. Não... Não fala tanto assim, nós é que somo exagerados, não é, Sara? - falou Celso rindo.
Phillip riu com o humor de Celso. Carolina já estava pegando sua bolsa para acompanhar Phillip. Eles se despediram dos dois e saíram porta afora de mãos dadas.
- Que casal fofo! - falou Celso para Sara.
- Quero um amor assim... - suspirou Sara.
- Sua hora vai chegar, carinho, é só dar um trato nesse visual, por favor!
- Estou muito bem assim! Invejoso! Vamos naquela boate hoje? - perguntou Sara.
- Hoje não vai dar, carinho, terei visita em casa... - sussurrou Celso.
- Aiiii. Ok!
Já do lado de fora da Biblioteca, Carolina perguntou:
- Para onde você vai me levar?
- Não vai demorar, logo logo chegaremos. - E abriu a porta do carro para Carolina entrar.
- Então, vamos lá.
- Trouxe para você. - falou Phillip contorcendo-se para pegar no banco de trás um embrulho vermelho.
- O que é isso? - perguntou Carolina, abrindo o embrulho. 
Quando abriu, viu um estojo de nylon transparente contendo diversas canetinhas coloridas, as que tinha visto no quarto de Phillip.
- Gostou? - perguntou Phillip.
- Adorei! Nossa, tem muita caneta aqui!
- Bem, você tem mais que eu agora, as minhas, muitas se perderam ou acabaram a carga. Vi que você gostou e resolvi comprar para você.
- Adorei, meu bem e olha que vou usá-las bastante! - Carolina deu um beijo na bochecha de Phillip, pois o mesmo estava dirigindo.
No caminho, pegaram um trânsito e chegaram meia hora depois. Phillip parou o carro num estacionamento pago e seguiram de mãos dadas a um prédio comercial enorme, todo envidraçado, de cor azul.
Enquanto muita gente saía do prédio direto para as suas casas, o casal andava a passos largos para dentro do prédio, como se fosse o começo do dia. Phillip apertou o elevador para o último andar equando chegaram, pegaram uma escada de serviço e subiram até a cobertura do prédio.
- Está querendo se matar, Phill? - perguntou Carolina.
- Só se for de amor! - respondeu Phillip.
- Brega! - riu Carolina.
- Pensei em vir aqui, depois da audiência, mas preferi esperá-la e trazê-la aqui também.
- É alto, hein? - Carolina falou olhando com receio para baixo.
- Bastante! 
- E você não vai me falar de quem é esse prédio? Ou vai dizer que é seu? - perguntou Carolina um pouco amedrontada.
- Meu pai tem um andar nesse prédio, da Girasole! - falou Phillip.
- Ahhh, sim. Qual é o andar? 
- É o último! Vinha às vezes para cá, quando começava uma campanha, para pensar em alguma ideia. Por isso deixo uma almofada aqui. - falou Phillip retirando um futon comprido de dentro de uma caixa de registro da parede.
- Você pensa em tudo! - falou Carolina admirada. - E como foi a audiência?
- Nossa, Carol, é por isso que estou aqui. Luciana tem me irritado profundamente esses dias. Aliás, ela falou que você estava cheio de intimidades com um 'moreno bonitão'.
- Desculpe, Phill, ia contar ontem, mas não pude deixar que ela estragasse nosso momento. - Carolina estava aflita.
- Eu imaginei. Ela foi ao seu trabalho te azucrinar?
- Ela me ameaçou! Falou para eu sumir e não atrapalhar o seu sucesso, vê se pode!?
- Não acredito, o que ela está pensando? - falou Phillip alargando as narinas e trincando as mandíbulas.
- Pois é. Mas Celso e Sara estavam por perto e ela ouviu poucas e boas deles. Salvaram minha pátria, porque eu fiquei tão chocada, que fiquei calada o tempo todo, sem reação.
- E quanto ao moreno bonitão? - perguntou Phillip.
- Pelo amor, Phill. O tal moreno bonitão que ela falou, é o Celso! 
E os dois gargalharam juntos.
- Bem, o advogado da Luciana era um tipo muito esquisito, parecia um segurança do que um advogado, fez um discurso um tanto quanto apaixonado, eu diria, mentiu sobre muitas coisas, falando que a forcei a se demitir e que eu a traía durante o nosso relacionamento!
- Que absurdo!
- Pois é, mas o Dr. Murilo deu um show de elegância e fez o jogo se virar, mas agora vou precisar fazer um teste de DNA, um exame de sangue, preciso tirar umas dúvidas com ele. E será feita a justiça.
- Será sim, meu bem. - falou Carolina, dando um beijo apaixonado em Phillip.
Ficaram um longo tempo abraçados e logo depois, Phillip disse:
- Então, Carol, vamos começar. O intuito é berrar, soltar todos os podres do nosso corpo, liberar a raiva num berro. Vamos?
- Estou mesmo precisando. - falou Carolina.
- Estamos! 
E aproximaram-se de um ponto mais alto e começaram a berrar!
Berraram com toda a força, Phillip liberava até alguns palavrões, que Carolina acompanhou. Riam quando paravam de berrar e depois continuavam. Quando já estavam exaustos de tantos berros e palavrões, se jogaram no futon e contemplaram o céu limpo, cheio de estrelas e as ruas cobertas de carros, com seus faróis luminosos e sua cidade ainda acesa.

Nenhum comentário:

Postar um comentário