13 setembro 2012

22 - Enrolados


Enrolados nus no cobertor, Carolina e Phillip conversavam assim que clareou o dia. Hoje seria corrido para Phillip e talvez bastante estressante.
O casal esqueceu um pouco dos problemas na noite anterior que foi tão especial quanto o primeiro dia que se conheceram.
Carolina resolveu se levantar e agradar Phillip, fazendo um café da manhã reforçado. Enquanto Phillip tomava banho, Carolina desceu e foi até o mercadinho próximo ao apartamento e comprou queijo, presunto, pães, manteiga, suco de laranja, de preferência da marca Girasole e um bolinho caseiro de fubá.
Correu até o apartamento para dar tempo de preparar tudo e não se atrasar para o trabalho. Quando chegou, Phillip estava se arrumando e tascou um beijo molhado em Carolina, que sorria.
- Bom dia, meu amor! - falou Phillip com voz alta.
- Bom dia! - retribui Carolina dando um abraço em Phillip.
- Onde você estava?
- Fui comprar nosso café da manhã!
Carolina colocou as compras na pequena mesa da cozinha, pegou dois copos que estavam sobre a pia, alguns talheres e mais dois pratos, forrou a mesa com uma toalha improvisada e chamou Phillip. Fizeram um simples café da manhã se tornar especial, conversaram mais um pouco e se admiraram. Assim que terminaram, Carolina foi até o quarto terminar de colocar sua roupa, olhou para a janela e viu um dia ensolarado, num céu sem nuvens. Falou para si mesma que o dia seria de êxito. Tinha que ser, estava dando tudo certo!
Quando enfim estavam prontos, saíram para mais um dia de trabalho. Phillip levou Carolina até seu trabalho.
- Esse vai ser o nosso ninho do amor! - falou Phillip.
- Hmmm, eu gostei dele! 
- Ninguém para nos atrapalhar, só eu tenho a chave. Você falou com seu pai? - perguntou Phillip.
- Falei sim, liguei para ele antes de dormir. Você já estava a léguas de distância do planeta Terra. - riu Carolina.
- Você falou o que? - perguntou Phillip curioso.
- Falei que estava com você e que talvez não voltasse para casa hoje e que ligaria do trabalho. - Carol falou em um fôlego só.
- Uau! Pensei que fosse falar que dormiria na casa de uma amiga.
- Já sou bem grandinha, Phill... Eu e meu pai temos uma relação aberta, não vou fingir que sou uma filha santa, pura e virginal.
- Ok! Gostei de saber disso. Só espero que ele não se zangue comigo.
- Claro que não. Ele te adora! - Carolina falou apertando as bochechas de Phillip.
- Preciso ir conhecer seu pai e Miguel. - falou Phillip.
- Faço questão!
Despediram-se com um beijo demorado dentro do carro e Phill prometera que assim que saísse da audiência ligaria para ela. Carolina concordou com um sorriso e entrou sorridente na Biblioteca, enquanto Phillip entrou no escritório pensativo e tenso. Deu bom dia para Ana e perguntou se tinha algum recado para ele, com a negativa foi caminhando até sua sala e cumprimentou alguns colegas que estavam pelo caminho.
Colocou sua mochila na cadeira das visitas e acomodou-se em sua cadeira giratória, pegando o telefone e pedindo que Ana fizesse uma ligação para o Dr. Murilo.
- Bom dia, Dr. Murilo, tudo pronto para mais tarde?
- Bom dia. Tudo sim, meu caro! Tudo pronto, na pasta, esperando a hora.
- Ótimo! Chegarei por volta das 13.30h e encontro o senhor lá. - falou Phillip.
- Já estarei lá meu caro, preciso chegar um pouco antes.
- Então, até daqui a pouco.
- Até! - falou Dr. Murilo desligando a ligação.
Phillip não conseguiu almoçar direito, fez um lanche rápido, comeu uma coxinha de galinha, junto com uma limonada. Olhou para o relógio que marcava 12.40h e resolveu ir naquela hora mesmo, era melhor ficar ansioso já estando lá. E foi. Quando chegou ao andar da audiência, encontrou com Luciana ao lado de seu advogado, ela sentada e ele em pé, como se fosse um segurança particular. Tinha cara de poucos amigos e Phillip estremeceu por dentro.
Quando Luciana o viu, se precipitou em falar com ele.
- Olá, darling! Como você está? - perguntou Luciana.
- Como você acha que estou, Luciana? - respondeu Phillip olhando ao redor.
- Acho que você está muito bem! - Luciana olhou de cima a baixo para Phillip.
- Ãhhh - Phillip fez um barulho nervoso.
- Phillip, sua namoradinha não trabalha numa Biblioteca? - perguntou Luciana zombeteira.
- Sim. 
- Pois é... Outro dia estava passando por lá e resolvi entrar para pegar um livro sobre a maternidade e não é que encontrei a pobretona por lá? - Luciana falou pausadamente.
- Hmmm, continua. - falou Phillip secamente.
- Ela estava cheia de intimidade com um moreno bonitão lá.
(O 'moreno bonitão' era Celso e de bonito ele não tinha nada, só tinha mesmo o moreno).
- Achei que deveria saber. - falou Luciana por fim.
Luciana sem querer deixou uma dúvida martelante na cabeça de Phillip, que fingiu não se incomodar, mas se questionou porque Carolina não tinha dito a ele que encontrara Luciana. Podia ser mentira dela também, pois Luciana não era uma pessoa muito confiável, mas preferiu deixar essa dúvida para outro momento. Ali e agora só queria saber dessa audiência. 
Ainda na espera, recebeu um torpedo de Carolina escrito "Estou torcendo para que tudo dê certo. Te adoro!".
Phillip se encheu de esperanças e alguns minutos depois, avistou Dr. Murilo conversando com outro advogado e foi ao seu encontro. Cumprimentaram-se e Dr. Murilo mostrou o envelope contendo a petição que terminara um dia antes. Ele estava confiante, então Phillip se apegou a isso também.
Não demorou muito para serem chamados. Os quatro tiveram seus nomes anunciados por uma mulher alta com voz grave. Entraram numa sala pequena, com uma longa mesa de cedro e diversas cadeiras. Phillip e Dr. Murilo ficaram de frente para Luciana e seu advogado segurança. Luciana sentou um pouco virada para o Juiz, com a barriga imperceptível que só era percebida quando de dez em dez segundos, ela mexia na barriga como se já estivesse de nove meses. Talvez quisesse impressionar o Juiz.
E deu início a sessão.
Os advogados entregaram suas petições, respectivamente ao Juiz.
Dr. Murilo esperou que o advogado segurança de Luciana começasse o trabalho e foi o que fez.
Pediu licença a Vossa Excelência e fez um discurso inflamado, colocando Luciana como uma mártir sofredora, de um jeito completamente exagerado e inapropriado, amada pela família e amigos. Zelosa com o próximo e uma esposa exemplar quando ainda estava num relacionamento com Sr. Phillip. Dissera que fora forçada a fazer uma escolha, sugerida por Sr. Phillip e com receio de ir contra as pretensões do cônjuge, deixou o emprego para se dedicar exclusivamente ao lar. E quando soube da gravidez, a abandonou. Quando o advogado segurança estava terminando o discurso, leu o último parágrafo com um teor dramático a fazer inveja aos atores shakespearianos, falando: e com todos os fatos aqui citados, meus caros, atribui-se a causa o valor de R$ 3.200,00 (Três mil e duzentos reais) referente a cinco salários mínimos e outras despesas extras a que forem necessárias, todo dia 1º de cada mês.
Phillip já estava levantando-se da cadeira revoltado com a audácia de Luciana, quando Dr. Murilo o conteve.
O Juiz estava atento ao discurso, nem se movia.
Quando achava que tudo estava calmo, Luciana de repente deu um gritinho agudo e começou a soluçar, chorando e falou como uma vilã de novela das nove que estava sofrendo com tudo aquilo e também porque ainda amava Phillip, Sr. Phillip, mesmo tendo sido traída por ele. Antes, Phillip estava achando tudo aquilo um palco de teatro, mas não conseguiu aguentar àquela acusação e levantou-se contrariado:
- Vossa Excelência, isso é uma mentira!!! Sempre me mantive fiel! Luciana, você está me caluniando! - falou Phillip trincando as mandíbulas.
O Juiz pediu silêncio e perguntou a Srta. Luciana se ela tinha alguma prova da infidelidade de Sr. Phillip. E com a negativa, o Juiz pediu para que continuassem.
Foi então a vez de Dr. Murilo entrar em ação.
Dr. Murilo com toda a sua elegância e delicadeza com as palavras, deu início ao seu discurso.
"Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz, conforme já esteja ciente do caso, há um atrito de informações neste processo de pensão alimentícia. Dado ao período de tempo de separação de corpos entre o réu Phillip Parker Spencer e a autora Luciana Martins D'Ávila, de um ano, e por livre e espontânea vontade de deixar de trabalhar na empresa "Parnaso, Agência de Publicidade", como confirmam as duas testemunhas arroladas e registradas ao processo; peço em respeito e em nome do réu, o requerimento de produção de provais, tais como: exames, coleta de sangue da autora e do réu para realizar exame hematológico de tipagem sanguínea e fator RH, com a finalidade específica de exclusão da paternidade. Realizado o exame e se for constatado a possibilidade de ser realmente o pai, requer então a realização do exame de DNA, para que não haja sombra de dúvida entre os presentes e que se faça a devida justiça, que é indenizando a autora ao pagamento de pensão alimentícia, que meu cliente e réu Sr. Phillip Parker Spencer terá a honra de pagar.”
Phillip deu uma espiada em Luciana com um sorriso quase imperceptível e viu que ela não tinha gostado muito da ideia. Gostou de vê-la em desespero, mesmo que ela não tenha mexido um milímetro do músculo de seu rosto. 
"Ela era profissional mesmo!", pensou Phillip.
Com essa premissa, o Juiz concordou em considerar o exame de paternidade e só depois do resultado daria sua sentença. 
O Juiz bateu o martelo e findou a sessão ordinária.

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