19 setembro 2012

18 - Jantar


Depois de uma segunda-feira turbulenta, Phillip parou para pensar no quanto deixara Carolina insegura. E para tirar todo aquele baixo astral, convidara Carolina para um jantar em sua casa, na companhia de seus pais. 
"Acho que faria bem a ela e a mim", pensou Phillip.
Pegou o telefone e ligou para Carolina.
- Oi, meu amor, está melhor hoje? - perguntou Phill.
- Oi, meu bem, estou bem melhor sim. - disfarçou Carolina.
Mas, Carolina estava preocupada e muito desanimada, não queria se apaixonar de novo por um homem cheio de problemas, como seu ex-namorado Roberto. Queria um amor tranquilo e baseado na confiança. Estava indo tudo bem, mas era um peso enorme esse acontecimento para ela. Não sabia se esse relacionamento iria durar, se Phillip iria sucumbir perante o nascimento do filho e casar com Luciana. Isso tudo passou pela sua cabeça, mas também poderia ser alarme falso. Essa criança poderia não ser de Phillip. Depois de tantos devaneios, Carolina ouviu Phillip dizer.
- É o seguinte. Falei com minha mãe mais cedo e ela topou, agora falta saber se você vai topar também. - falou Phillip.
- O que é,Phill? 
- Queria que você fosse jantar conosco essa noite, Carol. Conhecer minha casa, meus pais. O Bento você já conhece. - riu Phillip.
- O Bento, aquele fofo. Claro que irei,Phill! Fico feliz pelo convite. Que horas seria?
- O melhor horário para você. – falou Phillip.
- Às 20 horas estaria ótimo. Daria tempo de me preparar.
- Ótimo! Às 20h estarei batendo a sua porta.
- Será que devo levar algo para sua mãe? - perguntou Carolina.
- Não. Não precisa, Carol, sua presença já basta!
- Hmmm, está bom. Está tudo calmo por aí? - perguntou Carolina curiosa em saber se tinha alguma novidade sobre Luciana.
- Aqui está sempre agitado, mas nada de anormal, vamos esquecer esse assunto por hoje, ok? - falou Phillip abatido.
- Desculpa, Phill. Hoje não vamos tocar nesse assunto... Mas, posso fazer uma pergunta?
- Sim, pode.
- Sua mãe sabe?
- Não. Ainda não. Mas, vou contar. Só preciso de um tempo maior.
- Ok. Bem, aqui está calmo, mas preciso fazer alguns ajustes.
- Então vai lá, meu amor, nos vemos daqui a pouco. Beijo!
- Outro em você! - respondeu Carolina, desligando a ligação.
Carolina ainda tinha tempo para pensar no presente que daria a mãe de Phillip, afinal iria conhecer sua casa, desfrutar do seu jantar; era o mínimo que se podia fazer.
Pensou por alguns segundos em algum tema até se decidirpercorrer a biblioteca a procura de algum livro interessante. Encontrou vários temas, de culinária a turismo, até chegar à seção de "Artes". Foi quando pensou que dali sairia um ótimo presente. Mas, qual tipo de arte? Dança, música, pintura, decoração... 
Lembrou que Phillip tinha dito que sua mãe pintava e que também gostava de jardinagem, então procurou por esse tipo de assunto na estante e achou o livro "Grandes Jardins da Europa". 
"Hmm, é esse!" , pensou Carolina. E depois do trabalho, iria passar na livraria para comprar um exemplar novinho em folha.
Já com o livro em mãos e embrulhado num papel de presente dourado, Carolina chegava em casa depois de mais um dia cheio. 
Miguel e seu pai estavam no sofá, assistindo àtelevisão. Beijou os dois e falou que iria tomar um banho e se preparar para um jantar na casa de Phillip. Satisfeitos, Júlio e Miguel voltaram ao programa que assistiam.
Carolina, como sempre corria para que Phillip não ficasse mofando a sua espera.
Escolheu um vestido um pouco acima dos joelhos, preto com pequenas estrelas estampadas, um escarpim preto e colocou cuidadosamente o colar que Phillipdera no dia do primeiro beijo deles. Deixou os cabelos ao natural e foi até a sala mostrar o figurino para o pai e o irmão.
Assim que Carolina entrou, Júlio e Miguel bateram palmas e elogiaram com muitos 'fiufiu' e 'linda!" e Miguel brincou dizendo que Carolina iria ficar ainda mais linda em um vestido de casamento. Os três caíram na risada.
- Só vocês para me darem essa alegria. Vocês acham que estou apropriada para o jantar? - perguntou Carolina.
- Mamma Mia! Claro que sim, minha filha. Está linda! - falou o pai beijando sua filha.
- Carol, Carol, se tiver algum doce, você traz pra mim? - perguntou Miguel, dando pulos, sentado no sofá.
- Trago sim, pode deixar. - falou Carolina com um beijo.
Carolina aproveitou que o jornal estava aberto e procurou pelo seu signo só para dar uma olhada e leu:
"Mudanças à vista. Se você se adaptar a elas com harmonia e bom humor, as coisas fluirão naturalmente. Seja menos exigente e permita-se um pouco de diversão. A vida amorosa ganha impulso e afinidades surgem". 
“Excelente!”, Carolina pensou no biscoito da sorte que Luca tinha lhe dado. 
“Realmente, eu teria que ser flexível, mas não hoje, hoje seria diferente, seria divertido.”
Carolina pegou o presente e sua bolsa, fez um carinho em Agatha e saiu para mais um dia de expectativa. Queria que tudo desse certo e que os pais de Phillip gostassem dela.
Seria possível?
Assim que chegou, Carolina ficou deslumbrada com a casa de Phillip. Eles moravam num condomínio fechado e neste condomínio havia várias casas, de todos os estilos, formas e tamanhos. A casa de Phillip era no estilo americano.
- Meus pais quiseram permanecer com as raízes. Fizeram tanto a fachada como o interior no estilo americano, para se sentirem em casa. - explicou Phillip.
- Phill, sua casa é linda, seus pais tem muito bom gosto! 
- Você moraria aqui? - perguntou Phillip com ar orgulhoso.
- É claro que sim. Essa casa é um sonho!
A casa tinha três janelões na entrada, todas cobertas por persianas brancas. Parecia que cada janela era um ambiente e em cima delas, telhados, que ao longe formavam três telhados pontudos, na cor grafite. Também se via uma chaminé.
Percorreram um grande caminho até chegar a casa. Bonitas árvores em um campo bem verde e um jardim colorido formavam o ambiente. A entrada principal tinha uma pesada porta de mogno, decoradas com dois arbustos pequenos e uma lamparina, que iluminava o local. Carolina sentia um agradável cheiro de pinho.
- Estou nervosa! - falou Carolina segurando as mãos.
- Não fique, vai dar tudo certo, meus pais são pessoas simpáticas, vão gostar de você. - falou Phillip com convicção.
- Você acha, Phill?
- Tenho certeza! - E se beijaram carinhosamente antes de entrar.
Carolina pediu alguns segundinhos para retocar o batom e assim que entraram, Carolina e Phillip foi recepcionado por Bento, que usava uma gravata borboleta em seu pescoço. Carolina sorriu com a elegância de Bento e fez carinhos em seu dorso e pescoço. 
Phillip segurava a mão de Carolina a encaminhando até a sala, quando avistou uma pessoa numa saleta, sentada numa poltrona macia. Era o pai de Phillip, um sósia gorducho de Richard Gere, ostentando uma cabeleira grisalha, olhos ligeiramente caídos e claros como os de Phillip. Ele estava bebendo um copo que parecia ser uísque. Uma música alegrava o ambiente e assim que Carolina entrou na saleta, o pai de Phillip se levantou, com um pouco de dificuldade, mas o copo firme em uma das mãos, sorrindo.
- Pai, quero que conheça a Carolina, minha namorada. - enfatizou Phillip.
- Carol, esse é meu pai, Constantin.
Os dois se cumprimentaram com dois beijinhos no rosto e um aperto de mãos.
- Eu sempre soube que meu filho era igual ao pai. Tem muito bom gosto! - riu Constantin.
- Ah! Que isso, Seu Constantin. - sorriu desajeitada Carolina.
Constantin ainda tinha um leve sotaque, que não se percebia tanto.
- Vocês já se encontraram com Elena? - perguntou Constantin.
- Não, pai, ainda não, onde ela está? 
- Provavelmente dando as últimas ordens. Ela está agitada demais! Mais que o normal! - Constanin falou, dando um gole em seu uísque.
- Ela adora promover festas e jantares. É uma de suas diversões. - falou Phillip se virando para Carolina.
- Vamos, vão encontrar com ela, daqui a pouco me junto a vocês. - falou o pai por fim.
Carolina e Phillip foram até a sala principal e viram uma mesa de jantar muito decorada e apinhada de quitutes gostosos.
A decoração da sala era muito bonita e minuciosa em seus detalhes. Assim que entravam no recinto, dava de cara com um sofá grande de tom vermelho fosco coberto com almofadas de tons diferentes, uma mesa de centro larga, duas poltronas coloridas, uma lareira acesa com alguns portas retrato de família acomodados lado a lado e uma estante larga e comprida branca, contendo uma televisão, livros e alguns itens de decoração. A iluminação ficava a cargo de enormes abajures, propositadamente colocados para dar um ar de aconchego. Era tudo bem limpo, simétrico e de bom gosto. Carolina ficou encantada com a casa, parecia saída de um filme, daqueles que assistia. 
Em um cantinho da sala, ajeitando as grandes folhas de um vaso de plantas, estava a mãe de Phillip.
- Mãe! - chamou Phillip.
Elena olhou para trás e viu seu filho acompanhado de Carolina e abriu um largo sorriso, indo ao encontro dos dois, abraçando e beijando seu filho.
- Mãe, essa é a Carolina. Carol, essa é minha mãe, Elena. - falou Phillip.
- Que bela, menina! - falou Elena, dando beijinhos simpáticos.
Carolina que segurava o presente de Elena, estendeu a mão para entregá-lo, torcendo para que ela não tivesse o livro. Elena ficou surpresa com o carinho e abriu ali mesmo o embrulho. Estava bem empacotado e gostou do que viu. 
"Um livro de arte! Essa menina sabe escolher um presente", pensou Elena.
Elena agradeceu o presente com um beijo e um curto abraço. Era uma mulher de estatura baixa, falava num tom melodioso e calmo com um forte sotaque americano, que ainda mantinha. Usava um vestido floral de mangas e um cinto apertando sua cintura. Usava um maxi colar que contrastava com seus cabelos curtos e escuros. Tinha um rosto delicado e ainda conservava uma pele jovial. Carolina notou que seus olhos tinham aquele mesmo jeito inquieto dos de Phillip... Agora sabia de onde ele tinha tirado esse olhar.
Acomodaram-se no sofá esperando os últimos preparativos para o jantar. Carolina estava ansiosa e com medo de não saber se portar à mesa, mas se acalmou quando Phillip falou que não precisava ficar assim, não estava com nenhuma realeza.
- Vamos! Ivete já colocou tudo na mesa, agora é a vez de vocês, meus queridos! - bradou Elena.
- É pra já! Já estava passando mal de tanta fome! - falou Phillip, gerando um ar descontraído ao jantar.
Constantin se juntou ao grupo, juntamente com seu copo de uísque. Carolina e Phillip sentaram-se lado a lado. A mesa de jantar estava cheia e era grande, dando a entender que recebiam muitas visitas para almoçar ou jantar. Bento se aproximou e ficou aos pés de Carolina e enquanto se deliciavam com o jantar, conversavam.
- Recebemos sempre alguém aqui em casa - falou Elena.
- Sim, gostamos de ver a casa cheia, somos uma família pequena, mas gostamos de pessoas. Vai ser bom quando tivermos netos - falou Constantin sem nenhum constrangimento. 
- Mas, Phillip pouco participa, está sempre ocupado! - resmungou Elena.
- Ah, mãe, você sabe que não me incluo muito na turma de vocês.
- Eu sei, meu filho, eu sei. Então, Carolina, o que você faz? - Elena arqueou levemente uma das sobrancelhas.
Carolina ajeitou-se na cadeira, preparando-se para falar.
- Sou bibliotecária. Trabalho no centro, perto de Phillip.
- Pensei que trabalhava lá com ele. - falou Elena, tratando de colocar salada em seu prato.
- Não, não, nos conhecemos num intervalo, na praça, perto do nosso trabalho.
- Que coisa mais inusitada! Como foi isso? - perguntou Constantin.
- Um dia estava tão estressado com um trabalho, que resolvi me separar do grupo na hora do almoço e sentei na praça. Vi Carol lá. Resolvi ir no dia seguinte para saber se ela estaria lá novamente e estava, fui nos outros dias e só depois de um tempo é que Carol me percebeu. Quando ela me olhou, não pude deixar a oportunidade de lado e fui falar com ela. - explicou Phillip, dando um piscadinha para Carolina.
- Ahhh, tão romântico! Que bom que Carolina o notou, meu filho! Você não passa despercebido. - falou Elena com um leve brilho no olhar.
- Eu e Elena nos conhecemos no elevador! - falou Constantin olhando para Carolina.
- No elevador? - perguntou Carolina, sorrindo.
- Sim. E acredite, só fui perceber Elena, quando ela me perguntou as horas. Entrei no elevador com mil pensamentos. Aquela voz doce me fez amortecê-los. Dei o horário e quando estávamos saindo do elevador, pedi o telefone dela.
- Assim, na cara dura, pai? - perguntou Phillip.
- Não, não foi assim. Primeiro perguntei se ela trabalhava no prédio e com a negativa, perguntei se a veria novamente... 
- E eu respondi: talvez, em outro lugar - riu acanhada Elena.
- Isso foi a deixa para pedir o número de telefone, concordam?
- Eu faria o mesmo, pai!
- E então, estamos há 30 anos juntos. - Constantin deu um beijo carinhoso em Elena.
- Adoro histórias assim! E 30 anos? É muito tempo! Comemoraram essa data? - perguntou Carolina.
- Sim, comemoramos, fizemos uma grande festa no início do ano! Uma pena você não ter participado. - falou Elena.
- Ela estaria na festa se já a conhecesse, mãe. Certamente!
- Acredito que sim. - falou Elena, dando um gole em seu vinho.
- O que a senhora faz? - perguntou Carolina.
- Passo a maior parte do meu tempo fazendo trabalhos artesanais. Alguns eu vendo para uma loja no centro e eles revendem, outros eu guardo como recordação ou dou a amigos. Posso te mostrar meu trabalho depois.
- Adoraria! 
- E você não vai perguntar o que eu faço? - perguntou Constantin agindo como uma criança birrenta.
- Eu ia fazer justamente essa pergunta. - mentiu Carolina.
- Sou aposentado, mas não um aposentado comum. Não quis ficar em casa sentado com os pés para o alto. Resolvi abrir uma firma com meu irmão, apesar dele ainda morar nos Estados Unidos, mas estamos sempre mantendo contato. E quando ele vem, você pode imaginar a festa que é. Ele tem dois filhos e já tem quatro netos! - falou um Constantin todo contente.
- Constantin está sempre em movimento! Fico impressionada com tamanha energia, mesmo depois do acidente. - falou Elena.
- Que acidente?
- Constantin sofreu uma queda no antigo emprego, fraturou a bacia, ficou de molho por semanas e depois teve uma crise de pneumonia. Foi duro demais! - falou Elena, estalando a língua nos dentes.
- Foi duro, mas estou aqui para contar a história. Graças ao meu pai! - Constantin levantou as mãos para o céu, agradecido.
Todos na mesa sorriram e Phillip olhou para Carolina, num olhar cúmplice. Carolina lembrara que Phillip contara sobre o problema do pai e que Luciana não tinha respeitado sua dor.
- Pai, acabou que você não falou o que faz... - falou Phillip, rindo.
- Ah, sim! Tenho uma empresa de sucos, achocolatados e iogurtes e agora iremos fornecer bolinhos também. Ela se chama 'Girasole', palavra italiana de Girassol, que é a flor preferida de Elena.
- Assim vocês estão sempre abastecidos de sucos no café da manhã. - falou Carolina.
- Sim! No café da manhã, no lanche da tarde, no jantar, tudo nesta casa tem um garrafa de suco no meio. - gargalhou Constantin.
Em um estalo, Constantin se levantou e Bento foi atrás, abanando o rabo. Os dois foram em direção a saleta. Constantin voltou com uma bolsa de alças e Bento voltou ao seu lugar inicial. A bolsa foi entregue a Carolina.
- Aqui está, esse é o mimo que entrego para as pessoas queridas. - falou Constantin, entregando a bolsa repleta de produtos da Girasole.
- Nossa! Obrigada, Seu Constantin.
- Não tem de que! Quando terminar, avise que envio mais pelo Phill!
- Miguel vai adorar e meu pai também! 
- Miguel é o irmão dela, tem 10 anos. - explicou Phillip olhando para os pais.
Phillip tinha comentado com a mãe para que ela não tocasse no assunto da mãe de Carolina, pois isso ainda a deixava muito abalada. Com isso, Elena falou:
- Constantin criou uma coisa muito interessante, ele pede a seus funcionários que coloquem um adesivo da empresa em seus carros, para quando se encontrarem no trânsito, fazerem contato, um sinal, como os maçons, como é o sinal, querido? - perguntou Elena.
- Na verdade, quem inventou isso foi Phill, a empresa que ele trabalha é quem faz a publicidade. E o resultado está sendo muito rentável! - falou orgulhoso, Constantin.
- Como é, querido, o sinal? - perguntou novamente Elena.
- Sim. É bip curto, bip curto e um bip mais longo. - falou Constantin imitando o barulho da buzina.
- E eles fazem mesmo isso? - perguntou curiosa Carolina.
- Fazem! Já escutei cada história sobre isso. Até fui padrinho de um casamento, acredita nisso?
- Foi mesmo! Aquela festa foi maravilhosa! - falou Elena, suspirando.
- Phillip tem mesmo uma criatividade incrível. Gostei disso. - os olhos de Carolina e Phillip se encontraram.
Carolina caiu em si e deu um sorriso tímido quando se lembrou de sua família, totalmente diferente daquela. Não que isso fosse ruim, mas não conseguia imaginar Júlio, seu pai e Miguel, sentados naquela mesa com toda a pompa e circunstância. Seu pai e Miguel eram debochados e às vezes não mediam as palavras. Seu Constantin era uma pessoa bem divertida, achou que se não fosse o cuidado extremoso de Elena, ele se soltaria mais e quem sabe, se um dia conhecesse Júlio, teriam grandes afinidades. Não duvidava que aquela família se amasse e adorou conhecê-los e esperava que eles também tivessem gostado dela.

Assim que terminaram o jantar, Phillip levou Carolina para conhecer um pouco a casa enquanto Ivete preparava a mesa para a sobremesa, que seria Banana com calda de suco de laranja e sorvete de creme, receita de família, da avó de Elena.
Subiram as escadas, Carolina na frente, Phillip atrás e Bento os seguindo.
Uma mesinha alta de cor vermelha e um espelho com uma moldura antiga ficavam próximos a escada. Carolina aproveitou e se olhou nele, ajeitando seus longos cabelos ondulados e fazendo uma pergunta a Phillip:
- Você acha que fui bem?
- Bem? Você está numa entrevista de emprego, por acaso?
- Ah, Phill, me deixa! - riu Carolina.
- Claro que foi bem, eles gostaram de você!
- Você acha é?
- Tenho certeza!
Caminharam pelo corredor, num piso de tábuas corridas e paredes decoradas com azulejos em desenho de losangos preto e branco. A mesinha tinha alguns livros de decoração e um arranjo bonito de flores brancas que pareciam crisântemos e dois vasos de vidros amarelados.
Phillip abriu a primeira porta e era um pequeno lavabo de tons pastéis. A segunda porta era uma sala estupenda. Era uma sala que Carolina sempre sonhou; uma sala de cinema. Um enorme sofá caramelo, que mais parecia cama, ocupava toda a sala, com quadros de filmes espalhados e uma tela grande de cinema. 
- Meu Deus, que sala é essa, Phill?
- Ótimo para um filme, não é? E quase não fico aqui, acho que vou aproveitar mais. - falou Phillip.
- Deveria!
A terceira porta era o quarto dos pais de Phillip, com móveis e cortinas brancas e detalhes coloridos que davam um ar alegre ao ambiente, como uma colcha de vários tons de azul e dois abajures que pareciam azulejos portugueses. A próxima porta era o quarto de Phillip e assim que notou que era o quarto dele, Carolina entrou num pé só, admirada com a organização.
- Nossa, Phill, como você é um homem prendado e organizado! Olha isso, tudo arrumadinho, sem nenhumapoeira. - falou Carolina alisando com o dedo um móvel super branco.
- Não sou eu que deixo assim. Se fosse por mim, estaria uma bagunça só.
- Duvido! Fala a verdade? - riu Carolina.
- Às vezes eu pego a vassoura e varro mesmo, arrumo o armário e organizo as papeladas na escrivaninha. Mas só faço isso quando a Ivete não está. - protestou Phillip.
- Hum hum, sei. - riu Carolina.
O quarto tinha uma cama de casal com estofamento em couro na cor chumbo, juntamente com a cabeceira. A colcha era cinza e os travesseiros também. O criado mudo era de um verde escuro com uma luminária alta. E, logo acima da cama, um quadro retangular de um homem de perfil mostrando um braço e a palma da mão.
- Esse cara aí no quadro sou eu. - falou Phillip sorrindo.
- Que bacana! Adorei, quem fez?
- Minha mãe!
- Jura? E eu achava que ela só pintava flor! - se impressionou Carolina. 
- Que nada, minha mãe tem muito talento, mas não é qualquer um que ela retrata. Diz ela que precisa conhecer a pessoa, pois pinta com a alma e a memória, sem precisarolhar muito para a pessoa, quando a mesma é retratada.
- Interessante a forma como ela analisa isso. Ela retratou seu pai?
- Sim, o quadro dele está naquela saleta onde você o conheceu.
- Ah, puxa, não vi. Mas, eu amei o seu! Ficou ótimo em seu quarto. - falou Carolina observando atentamente a pintura.
Em frente à janela, tinha a escrivaninha, que supunha, servia como escritório. Alguns papéis desorganizados, um laptop branco, várias canetinhas de cor e fotos do trabalho preenchiam a mesa. A cortina estava aberta e era branca.
- Minha mãe faz questão de que todas as cortinas sejam brancas. - falou Phillip com enfado.
- Acho que ficaria estranho se fossem todas de cores diferentes. Quando avistei a casa de longe, a primeira coisa que reparei foi isso, as cortinas todas branquinhas.
- Verdade, acho que ficaria estranho sim.
- Olha, essas canetinhas, eu tenho algumas, mas você tem a coleção toda, adoro essas canetas!
- Elas são muito úteis em meu trabalho. - falou Phillip.
Uma estante comprida chamou a atenção de Carolina, contendo alguns livros e objetos de decoração, como alguns bonecos de filmes. Phillip a puxou pela mãoe abriu uma porta. Carolina achou que era o banheiro, mas quando ele abriu ficou de boca aberta. Era um armário cheio de livros, CDs e DVDs. 
- Isso era quando fazia coleção de filmes e músicas. - falou Phillip ligeiramente convencido.
- Nossa, Phill, realmente você é um homem organizado! - gargalhou Carolina.
- Não posso negar que gosto de tudo em ordem... Mas, você não reparou mais em nada?
- Como assim?
- Nada mais te chamou a atenção? - Phillip ficou meio ressabiado.
- Claro que sim, seu bobo!
Era um porta-retrato com a foto dos dois quando foram ao karaokê. O restaurante tinha um fotógrafo que cobrava pelos cliques. Phillip ficara com uma cópia e Carolina com outra.
- Precisamos tirar outra foto, agora como namorados! - falou Phillip.
- É verdade, meu amor, você tem razão...
Phillip e Carolina se beijaram demoradamente, ele a puxava para junto de seu corpo, fazendo carinho em seus cabelos e nuca e Carolina puxava os cabelos de Phillip com firmeza, retribuindo o beijo apaixonado. Foram surpreendidos pela mãe que entrara no quarto para avisá-los que a sobremesa estava esperando por eles lá embaixo.
Carolina e Phillip sentiram um pequeno rubor em suas faces, mas logo passou e desceram as escadas juntos, com Bento em suas colas.
- Conheceu a casa, Carol? - Constantin perguntou.
- Sim e a achei linda! Vocês moram aqui há muito tempo? 
- Desde sempre! - respondeu Elena.
- Desde que viemos dos Estados Unidos e não acredito que a gente vá se mudar algum dia. Gostamos muito daqui! Só fizemos algumas reformas de lá para cá. A casa era bem menor. - explicou Constantin.
- Parabéns pela casa! E a decoração é lindíssima! - falou Carolina.
- Obrigada, querida. - respondeu Elena com forte sotaque americano.
Sentaram todos à mesa e como se houvessem combinado, pegaram suas colheres e mergulharam no doce de banana, como se fosse ensaiado.
- Humm, que delícia! - falou Carolina.
- Isso aqui é um perigo! Perigo de delicioso, acho que alguém mataria por isso!
- Deixa de bobagem, meu filho, é uma receita fácil e rápida, não tem segredo nenhum! - falou Elena rindo.
- Talvez eu possa fazer um bolinho com esses ingredientes, para a Girasole - falou o empreendedor Constantin.
- Vamos deixar de papo furado e vamos saborear. - falou Phillip. 
Carolina pensou no pai e no irmão. Podiam estar ali agora, ia ser ainda mais divertido. 
Gostou de conhecer o pessoal e particularmente, gostou de saber como vive Phillip e tinha curiosidade em saber como era seu quarto. Nem de longe imaginou que ele era tão rico assim, pois ele não fazia questão em exibir sua fortuna por aí. Era um cara tranquilo, simples e muito querido pelas pessoas e isso fez com que Carolina se apaixonasse por ele. Não iria pensar no futuro, queria pensar no agora e participar de tudo com riqueza de detalhes, para não se esquecer depois. 
Imaginou uma foto agora. Uma foto dos quatro, ali, saboreando aquela sobremesa e rindo. Ia ficar ótima!

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