21 setembro 2012

16 - Susto


Nos altos de seus 29 anos, Phillip nunca tinha conhecido até então, uma pessoa maquiavélica e cruel e se admirou em dizer seu nome em voz alta: Luciana.
Phillip se lamentava, pensando em como fora estúpido em acreditar em cada palavra que ela lhe dera nestes últimos três anos juntos. Ela era vil e ambiciosa, mas não uma ambição comum a todos, mas uma ambição raivosa, desesperada. Ela queria lucrar com a infelicidade dos outros. Ela não estava ligando para o que Phillip pensava. Ela queria se dar bem, usar os outros, sem pensar que isso um dia poderia prejudicá-la.
Depois de um final de semana divertido e romântico com Carolina, veio o susto, a decepção. Sabia que aquilo que estava lendo era irreal e repetiu uma parte da carta, incrédulo: 
"... propor a presente: Ação de Alimentos contra: Phillip Parker Spencer...".
Luciana grávida? Sim, pode ser, mas aquele filho não era dele, mas também ficou confuso, não estava pensando direito. Resolveu deixar a carta em cima da mesa e foi buscar um pouco de água. Bebeu num gole só, sem ao menos sentir a água percorrer sua garganta seca.
Pegou o telefone, discou um ramal e pediu para que a pessoa do outro lado da linha viesse a sua sala, imediatamente.
Otto apareceu logo em seguida. Era um sujeito que parecia ter saído de uma série policial. Forte e alto, estava ficando calvo nas têmporas, mas raspava o cabelo para disfarçar, tinha um humor ácido e estava sempre divertindo a turma do trabalho. Ele era o melhor amigo de Phillip.
Phillip então sem falar nada, mostrou a notificação que recebera, para espanto de Otto. 
- Que isso, cara! Que porra é essa? - falou Otto, sem nenhuma formalidade.
- Não sei, cara, ainda estou querendo entender.
- É seu? - perguntou Otto, entregando a carta para Phillip.
- Não sei...
- Não sabe? Como assim, não sabe? Você precisa saber, cara!
- Depois de um tempo separados, eu e Luciana nos encontramos umas duas vezes.
- Ah, cara, não acredito, depois de tudo o que ela fez, vocês ainda transaram?
- Não me julgue, ok? Fui fraco, ela ainda é bonita, não é? Ela se insinuou, eu não resisti, sei que fui fraco, mas agora já era.
- Usou camisinha?
- Não lembro direito, a gente sempre bebia nas vezes que nos encontrávamos.
- Cara, nunca vou esquecer uma vez que ela falou para mim e para você, num bar lotado com todos os nossos amigos, que engravidaria de você, mesmo que estivesse bêbado, lembra disso? 
- Não! Você desenterra cada coisa!
- Tudo o que eu ouvir e que possa ser usado contra alguém, eu vou me lembrar - falou Otto em um tom debochado.
- Quando foi a última vez, Phill?
- Me deixa ver... -falou Phillip, pegando a agenda e folheando as páginas.
- Você anota essas coisas na agenda? Precisa se preparar melhor, né? Depilação, barba, cabelo e bigode, é um processo demorado! - debochou Otto.
- Porra, Otto, tô nervoso, cara!
- Foi mal, só queria dar uma animada. Eu tenho certeza que esse filho não é seu. Luciana não presta e ela espalha isso para todo mundo. É cobra criada!
- Estou olhando na agenda, porque a última vez que nos encontramos, eu estava visitando um cliente, ela me ligou nesse dia e ficamos num bar ao lado deste prédio.
- E por que você guardou isso?
- Porque ela me disse que o primo dela trabalhava nesta empresa.
- O primo? Ela tem família, essa desgraça?
- Por incrível que pareça, sim. Por isso guardei o nome. Só preciso achar a data... Aqui! Achei! Foi há exatos três meses. - falou Phillip apontando o dedo várias vezes em cima da data na agenda.
- Será que ela está de três meses? - perguntou Otto.
- Vou ligar para ela agora!
- Epa... Calma, irmão! Muita calma!
- Eu terei, Otto, eu terei.



No mesmo dia que Phillip leu a notificação de Luciana, ele iria se encontrar com Carolina no escritório para depois saírem, mas tinha esquecido completamente disso e quando ainda estava nervoso e remoendo tudo o que Luciana dissera ao telefone, recebeu uma chamada de Ana, informando que Carolina já o estava esperando.
Carolina estava esperando por Phillip, sentada no aconchegante sofá da recepção, segurando sua bolsa no colo, olhando as pessoas e visualizando como deve ser o dia a dia naquele escritório que tinha uma decoração na maior parte branca, com quadros coloridos. 
Viu os funcionários para lá e para cá, todos com certa ansiedade em cumprir suas metas e irem para as suas casas.
Na recepção, uma moça com seus 20 e poucos anos de cabelo estilo joãozinho, muito bonita, maquiagem bem feita e a pele clara, atendia as ligações e recebia os visitantes. Ela ficava do outro lado de uma grande bancada oval. O sofá ficava ao lado e na frente dele, uma máquina de café expresso e de água. Ali, pelo visto ficava o cantinho da paquera, do papo e das fofocas.
Quando esperava por Phillip, duas funcionárias pegavam café, seguidas por dois rapazes que se juntaram ao grupo. Carolina prestou atenção.
- Já sabem o que rolou no escritório hoje? - perguntou um rapaz.
- Não, o que? Qual a fofoca desta vez? - falou a outra.
- Phillip batendo boca ao telefone com a Luciana.
- Ãh... E no que isso é novidade?
- A novidade está no enredo. - riu o outro.
- Ai, meu Deus, conta logo, sua peste.
- Ouvi, quer dizer, ouvimos, porque o escritório parou para ouvir...
- E onde eu estava a essa hora? - perguntou a outra funcionária curiosa.
- Vocês ainda não tinham chegado! Foi de manhã.
- Então, o Phillip vai ser papai. - os rapazes riram irônicos.
- O que? - pronunciaram em uníssono.
Enquanto isso, Carolina ficou tão chocada que levantou de um solavanco, deixando a bolsa cair, voltando a pegar e correndo para o banheiro.
- Quem é que estava sentada ali?
- Sei lá... Mas me conta, Vic. Como assim?
- O Phillip estava enfurecido, falando "esse filho não é meu, o que você quer, Luciana, você quer me arruinar?" -falava Vic imitando a voz de Phillip.
- Caramba! Eu bem acredito que aquela Luciana armou tudo!
- Que nada, é dele sim, aposto! - falou o outro.
Carolina não conseguia sair do banheiro, enquanto os outros estavam lá, esperou mais um pouco, até sentir que o caminho estava livre para ir embora ou sei lá, esperar Phillip lá embaixo. Estava envergonhada.
Abriu a porta devagar, notou que só havia a recepcionista ao telefone e saiu.
Logo depois, Phillip chegou perguntando a Ana onde estava Carolina. Ela não soube responder. "Talvez no banheiro", falou.
Foi até o banheiro e nada. Com isso, Phillip saiu porta afora.
Carolina estava nervosa e segurava a bolsa de qualquer jeito, enquanto esperava pelo elevador quando viu Phillip se aproximar. Surpreso, Phillip perguntou:
- O que houve, Carol? 
- Você não ia me contar, Phill?
- Contar? Contar o que? - se assustou Phillip.
- Para de cinismo, Phillip, eu ouvi muito bem o murmurinho que você causou no trabalho hoje. Você vai ser pai? - perguntou Carolina pronunciando com repulsa a última palavra.
- Carol, por favor, calma, soube hoje dessa notícia, iria te contar esta noite. Não seja precipitada.
- Como não ser. Estou sentada, quieta e vem pessoas fazerem fofoca com o seu nome, não posso ficar calma, ainda mais sabendo que você terá um filho com aquela mulher!
Phillip pegou Carolina pela mão, olhou em seus olhos e disse:
- Me espera aqui, ok? Vou pegar minhas coisas, me espera, que conversaremos.
Carolina estava bufando de ódio, não sabia se esperava ou ia embora de vez. Mas, parou para pensar, ia esperá-lo... Mais uma vez.

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