25 setembro 2012

14 - Biblioteca


Carolina e Phillip resolveram dar uma pausa em seus encontros. Não por falta de vontade, mas por falta de tempo mesmo. Phillip precisou resolver umas pendências referentes ao seu trabalho, viajando para São Paulo, enquanto Carolina passava mais tempo com a família. Ele ligou para avisá-la no mesmo dia que soube que iria viajar e que voltaria no fim de semana a tempo de vê-la.
Carolina ficou triste, mas animada por ouvir que ele queria voltar logo para sair com ela. Ele bem poderia ficar na cidade, do tanto que já ouvira falar que a noite de São Paulo era agitada e bacana.  
Animada, Carolina resolveu colocar as coisas em ordem no trabalho. Era organizada e queria tudo arrumado até segunda-feira. Queria ocupar o tempo para não sentir tanta falta de Phillip.
- Resolveu levantar poeira, Carol? - indagou Sara.
- Levantar e depois tirar, está tudo muito bagunçado por aqui.
- Estava muito ocupada pensando, né Carol? - riu Sara.
- Isso me atrapalhou um pouco, preciso admitir. - retribuiu o sorriso Carolina.
Carolina trabalhava em uma Biblioteca, em um prédio de dois andares. Seu local de trabalho fica no primeiro piso, lidando com o público e com os livros. A Biblioteca era muito assídua, pois era a única no bairro. Sara trabalhava junto com ela, juntamente com outros funcionáriosespalhados pelo prédio. 
No 2º andar; duas salas que eram alugadas para alguns cursos ou eventos rápidos. Então, sempre tinha gente para lá e para cá. O horário de expediente de Carolina era normal, mas o 2º andar ficava aberto até às 22 horas.
Em algumas épocas a Biblioteca era mais calma, especialmente na época de férias dos colégios, mas o 2º andar; não.
Carolina tinha que catalogar os livros que chegaram e ainda não tinha feito esse trabalho. Catalogar no sistema operacional, organizar os livros nas estantes e dar baixa nos livros entregues. 
Sara não a ajudava nisso, pois o trabalho dela era outro, era bibliotecária mais parecida com uma professora, estimulando a leitura, ajudando as crianças com a internet e fazendo programas voltados à educação. As escolas estavam sempre enviando seus alunos para a Biblioteca e Sara era a encarregada de ficar com eles. Ela tinha a maior paciência com os baixinhos enquanto Carolina não tinha muito tato com eles. Eles abusavam dela, ficava boba com eles.
Celso, o rapaz que fazia a parte de arquivismo estava sempre por perto. Era um mulato alto e magro, divertido e muito competente, nunca deixava brechas em seu trabalho e não gostava que ninguém se metendo em sua função, mas fazia Carolina e Sara rirem e era isso que importava, um ambiente amistoso. 
- Carinho! Já falei, não precisa arquivar nada. É só me avisar. - falou Celso.
Celso tinha uma irritante mania de chamar a todos de 'carinho', podia ser o carteiro, o cachorro de rua, o dono da Biblioteca, não importava, ele chamava.
- É que resolvi tirar tudo da mesa e seus arquivos estavam aqui, resolvi eu mesma arquivar, para facilitar. Desculpe, não farei mais, ok?
- Ok, carinho. Me deixa voltar para o meu trabalho, pois preciso ligar para aquela secretária da outra biblioteca, a que parece ter um ovo na boca. Ela precisa de um fonoaudiólogo urgente! - esbravejou Celso, saindo da sala sem olhar para Carolina.
As duas meninas que faziam a limpeza do local soltaram um grande suspiro de desprezo e continuaram com a faxina. As duas estavam sempre juntas e isso geralmente se transformava em fofoca. Mas, Carolina e Sara, não davam muita trela para elas. 
A chefe de Carolina aparecia pouco, dando mais liberdade para ela. O telefone era tranquilo. Às vezes, Carolina andava pelos corredores da biblioteca, caçando algum livro interessante ou observando as pessoas. Ela sempre estava com algum livro na mão, emprestado da biblioteca.
Já estava na hora de ir embora, quando resolveu ligar para Luca e convidá-lo para se encontrarem no bar ao lado, tomar alguma coisa e conversar. Luca já estaria em casa a essa hora e acertou o horário para o encontro. Chamou Sara para irem juntas, mas Sara não podia ir, tinha outro compromisso. Carolina foi até o banheiro, que estava cheirando a lavanda e passou um batom, alisou os cabelos com as mãos e foi.
Às 18 horas, Carolina já estava esperando por Luca e bebendo seu singular suco de abacaxi, quando chega Luca com seu chapéu panamá preto, sua bolsa tiracolo e muito afobado.
- Menina, você não sabe o que aconteceu!
- O que?
- Vi seu ex-namorado pelas redondezas.
- O que ele estava fazendo? - perguntou Carolina surpresa.
- Ah, o que você acha? Exibindo-se com aquela moto patética para as garotas. Tinha uma, inclusive, que estava praticamente esfregando-se nele.
- Deixa ele, que aquele maldito não venha encher minha paciência... - falou Carolina mexendo a boca e formando duas covinhas na bochecha.
- Tem outra coisa também. Ah, uma cerveja, por favor! - pediu Luca ao garçom que aparecera para anotar o pedido.
- O que? -perguntou Carolina curiosa.
- Me irritei no trabalho. Aliás, me irrito sempre. Não sei lidar com gente folgada e sem senso de humor.
- É ainda aquela lá?
- Sim! Ela é ótima quando está de bom humor, mas se irrita fácil e sempre sobra pra mim. 
- Dá uma ignorada nela, Luca. Isso fará bem a ela e a você.
- Talvez... Olha, comprei dois biscoitos da sorte quando estava vindo para cá. Escolha o seu - falou Luca segurando os biscoitos em cada mão.
- Você lavou essa mão? - Carolina riu.
- Claro que sim, né? Aff!
- Hmmm, ok. - Carolina fechou os olhos e tocou em um dos biscoitos.
- Vamos abrir juntos, Carol!
- 1, 2, 3... Já!
Leram os seus biscoitos. Luca não ficou muito satisfeito e com isso, não comeu o biscoito, jogando na mesa com raiva. 
- Palhaçada! - esbravejou.
- O que deu no seu?
- "A vida trará coisas boas se tiveres paciência". - falou com deboche Luca.
- Viu? Paciência é tudo nessa vida. - riu Carolina.
- Amiga, então se for assim, nada virá, porque minha paciência explodiu há tempos!
- O meu deu: "Não há que ser forte. Há que ser flexível". Hmmm, nada mau.
- O Phillip ligou? - perguntou Luca.
- Ainda não, acredito que vá me ligar à noite. E você?
- O que tem eu?
- Ué, sua paquera...
- Ele ainda não se decidiu se quer meu corpinho moldado por comida saudável ou minha mente. É tão confuso se decidir?
- Acho que ele está fazendo jogo duro, Luca.
- Eu é que vou acabar jogando uma coisa dura na cabeça daquele palhaço.
Os dois riram. 
Já em casa, Carolina se atirou no sofá macio que o pai acabara de comprar. 
"Realmente, valeu a pena ter trocado a mobília, esse sofá é pura massagem", pensou.
Abriu a bolsa para pegar o celular e haviamtrês chamadas de Phillip e exasperou-se:”Caramba!".
Mas, antes que pudesse ligar para Phillip, Miguel veio correndo em sua direção, pulando em cima dela.
- Oi, meu bem! - cumprimentou Carolina.
- Você demorou, onde estava? - perguntou o irmão, abrindo a bolsa de Carolina, a procura de algo.
- Eiii, tira a mão daí, não trouxe nada para você! - falou dando um tapinha na mão de Miguel e pegando o irmão pelo quadril, deitando ele no sofá e o enchendo de cócegas. Miguel odiava quando Carolina fazia isso, mas pelo menos ele pararia de fuçar em suas coisas.
- Ahhh, caramba, para, por favor! - implorava Miguel, quase aos prantos.
- Só se disser que me ama! 
- Não vou, sua bruxa! Me largaaaaaaaa!
- Fala, anda!!! - ria Carolina.
- Eu te amo, sua bruxaaaa! 
- Eu também te amo, seu malinha! - Carolina ria, balançando os cachos de Miguel.
Os dois começaram a rir. Miguel chorava e ria ao mesmo tempo, mas mesmo assim, amava a irmã. E gostava quando ela chegava em casa.
- Estava com o Luca, batendo papo, o que você fez até agora?
- Estudei um pouco, depois fui jogar videogame. - Miguel fez careta pra Carolina.
- Hmmm, depois do banho darei uma olhada nisso, hein?
- Pode olhar! -falou Miguel dando de ombros.
- Cadê papai? - perguntou Carolina.
- Foi até a casa da vovó pegar alguma coisa, ele não falou o que era... 
- Tá bom, me deixa fazer uma ligação aqui, depois nos falamos.
- Ok! - correu Miguel para o seu jogo.
Carolina procurou por Agatha e a achou no quarto deitada em sua cama, sentou perto dela para fazer um carinho e pegou o celular. Apertou o nome do Phillip que já estava em seus favoritos e desligou logo em seguida. Ficou insegura. Mas numa coincidência terrível, seu celular tocou e era Phillip.
- Alô, Phill? - Carolina entoando uma voz meiga.
- Oi, Carol, tudo bem com você? Não consegui entrar em contato...
- Estava com o celular na mão para ligar para você, mas você se apressou - riu Carolina.
- Estamos em sintonia! Fiquei praticamente a tarde toda resolvendo as coisas esó agora pude descansar, quer dizer, há uma hora, quando liguei para você.
- Estava com o Luca, resolvemos bater um papinho depois do trabalho.
- Ah, que bom, pelo menos alguém está se divertindo! - falou num tom meio irônico.
- Uma diversão e tanto, eu posso dizer. Luca é muito divertido.
- Vou querer conhecer esse rapaz, hein?
- Sim, senhor. Mas se você não passar no crivo dele, você estará enrascado!
- Phillip Spencer, o homem mais sortudo do mundo, prazer! Acho que ele vai gostar disso, o que acha?
- Acho que o senhor é muito do metido!
- Não é o que as meninas do trabalho dizem... - falou sério. - Tá! Parei! – riu Phillip.
- Hmmm, sem graça!
- Carol, vou precisar jantar, estou até agora sem comer nada satisfatório. Vou aproveitar e comprar alguma coisinha de Sampa para você.
- Um presente, Phill? Puxa, vou adorar. Agora você me deixou curiosa!
- Ãhn Ãhn, foi por isso que falei, sei que você é bem ansiosa. Nos falamos depois?
- Claro. Vai lá, bom apetite, um beijo.
- Outro pra você. - quando estava prestes a desligar, Phill gritou: - Ah!! Sonhe comigo e não caia da cama, por favor!
- Sempre! E se despediram.

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