27 setembro 2012

13 - Encontros


Carolina já se sentia bem melhor, no dia seguinte a sua indisposição em que acordara febril, preferindo não ir trabalhar e ficando aos cuidados do irmão e do pai, que a bajulavam, como sua mãe fazia. 
Ela se lembrou de quando se sentia doente e sua mãe a cobria de carinhos, às vezes era até gostoso estar doente. Riu de si mesma e riu também dos dias de chuva forte, com raios e trovões, quando sua mãe falava para não ir ao colégio e Carolina se enfurnava nas cobertas abraçada a mãe, vendo televisão e conversando. 
"Tempo bom...", pensou Carolina.
O pensamento foi cortado pelo toque do telefone. Era Phillip.
- Olá, doentinha, está melhor hoje?
- Sim, Phill, sou uma nova Carol! - riu.
- Ótimo! Porque hoje, vou levar você a dar boas risadas, topa?
- Como posso recusar?
Carolina foi correndo para casa, se preparar para o encontro. Chegou em casa, deixando rastros. Jogou sua bolsa no sofá, tirou seus sapatos pela sala, seus brincos e suas pulseiras, deu um beijo no pai e no irmão e foi tirando sua roupa já dentro do banheiro. Tomou uma ducha demorada, olhou para as mãos e pensou "Ainda bem que fiz as unhas hoje".
Saiu do banho enrolada em sua toalha verde e mentalizando a roupa antes de chegar ao quarto.
Vestiu uma calça branca, uma blusa com listras horizontais, azul e branca e um sapato alto azul marinho.
Phillip já estava esperando por Carolina.
- Oi, vamos? - falou Carolina beijando Phillip no rosto.
- Vambora!
Chegaram num restaurante iluminado por luzes pisca-pisca. Carolina não fazia ideia do que era, mas achava que era algo inusitado, como deveria ser os encontros com Phillip. 
E antes que acontecesse algo, Phillip falou.
- Olha, Carol, esse lugar é para animar você um pouco, mas é só uma brincadeira, não quero que leve nada a sério aqui. Estamos entendidos?
- Não... - falou Carolina, querendo rir.
Carolina já imaginava o que vinha por aí, pois leu uma placa logo que entrou no restaurante, mas fez questão de passar que não estava sabendo de nada.
- Estou falando para você se divertir, se levar cantada, você não aceita.
- Cantada? Estou tão linda assim, Phill?
- Você está sempre linda... É só um aviso. 
- Hmmm, acho que alguém é ciumento! - falou Carolina, se divertindo.
- Não sou ciumento, sou protetor.
E os dois caíram na risada.
Os dois entraram numa sala que já haviam outras pessoas nela. Dois minutos depois, uma mulher apareceu para pedir que todos se encaminhassem ao salão.
Phillip e Carolina foram separados. Lá, escolheram suas mesas. O grupo era composto de doze pessoas. 
A mulher comunicou com um microfone em mãos:
- Boa noite, meus queridos, vocês estão no Speed Dating* e terão quatro minutos para achar a sua cara metade. Calma!!! Pesquisas revelam que não bastam mais de três minutos para que uma pessoa saiba se rolou química, então, coloquem a lábia para fora e divirtam-se! -finalizou a mulher, saindo do salão rodopiando o corpanzil.

"Parecia show de rodeio. Cuidado para não ser atacada com um beijo inesperado"pensou Carolina.
Carolina olhou para Phillip, que estava rindo e fazendo careta para Carolina e ela retribuiu fazendo um sinal com o dedo cortando o pescoço, dando a entender que iria matá-lo quando o encontrasse cara a cara e cerrou os dentes. 
A mulher então com um vestido todo pink, toca o sino, sinalizando o começo do evento.
Logo de cara, Carolina recebeu um rapaz tímido, magro e de estatura mediana. 
Carolina tomou a inciativa perguntando ao rapaz se encontraria sua alma gêmea naquele tipo de evento.
Ele, com a cabeça baixa e segurando os óculos, falou que era o único jeito de conhecer, pois não tinha facilidade com o sexo oposto.
Carolina deu uma de irmã mais velha e tentou fazer com que o rapaz não se sentisse tímido e apontou para uma menina, que seria a versão feminina do rapaz. 
- Talvez aquela menina seja sua alma gêmea. Combina contigo. 
O rapaz olhou de relance, concordando com Carolina.
- É, talvez você esteja certa. Acho que você está aqui só para se divertir.
- Você acertou, estou mesmo apenas por diversão, mas vou torcer por você.
- Qual seu nome? - perguntou o tímido rapaz.
- Carolina.
- Um bonito nome. O rapaz pronunciou o nome de Carolina de trás pra frente.
- O que é isso? - perguntou Carolina.
- Apenas uma mania. Seu nome de trás pra frente é Anilorac.
Toca o sino.
Desta vez, sentou em sua mesa um rapaz alto e bastante expansivo. Usava uma daquelas camisas em V, com decote bem exagerado e músculos aparentes.
- Olá, gatinha. Você é linda, sabia? Como se chama?
- Fernanda. - mentiu Carolina.
- Fernandinha, seu batom vermelho está de arrasar! Gosto de mulheres com atitude. Por que ainda não tem namorado? Não acredito!
Nessa hora, Carolina deu uma espiada em Phillip e trocaram olhares. Phillip fazia cara de porre e piscava para Carolina, enquanto ela fazia sinal com o polegar pra cima, fazendo Phillip fazer cara feia.
Carolina começou a rir.
- Poxa, gatinha, vai terminar o tempo e você me traindo, se já está assim, não vai dar certo.
Toca o sino.
Desta vez, Phillip é o sorteado. Ele encara Carolina com aqueles belos olhos azuis e pede para que ela fique calada. 
- Vamos apenas nos observar. - ele fala.
Carolina observa atentamente o rosto de Phillip que tem três sinais castanhos na bochecha, uma embaixo da outra e uma pequenina embaixo do olho direito, observou sua pequena boca, o lábio superior um pouquinho maior e os olhos claros que pareciam o mar de Atenas. Ele era lindo e tinha um olhar muito sedutor. Carolina às vezes gelava com aquele olhar. Phillip estava fazendo isso nesse exato momento, quando Carolina desviou o olhar.
- Não conseguiu. Fraca! - riu Phillip.
- O olho ardeu. - riu Carolina.
- Mentirosa!
Phillip olhava para Carolina o tempo todo, gostava das suas covinhas quando sorria, do seu olhar de assustada que fazia quase o tempo todo, da sua boca bem delineada e de seus olhos cor de mel. Ela também tinha uma pequenina cicatriz no canto da boca. E seu cabelo a fazia ainda mais bela; cheios e revoltos. Mas, gostava especialmente quando ela desviava o olhar. Sabia que ele estava mexendo com ela e isso era bom. Talvez a peça em namoro, talvez ela já saiba disso, talvez o futuro o diga o que fazer.
Toca o sino.
Senta um rapaz de cavanhaque, bem vestido e perfumado. Carolina brinca, dizendo que sentiu o perfume dele a distância.
Ele ri numa pose de modelo de revista e fala:
- Sou muito vaidoso. Não que isso atrapalhe minhas conquistas, mas o homem precisa ser cuidadoso com a aparência.
- É mesmo? Você quer aparecer mais que a sua parceira? - Carolina se diverte.
- Claro que não, assim como eu sou na vida social, sou na vida profissional. Só quero passar uma imagem asseada.
- Você é metódico, então?
- Um pouco. Sabe, um homem em minha posição, requer uma mulher que entenda o que eu esteja falando e seja séria. 
- Hum hum. - sussurrou Carolina.
- Sou gerente geral de uma multinacional, tenho um bom carro, tenho um apartamento que cuido com destreza, minhas empregadas no caso, faço muitas viagens, preciso de alguém que aguente meu ritmo de vida.
"Nojento! Deus me livre ficar com um homem desses. O que adianta ter grana, se é um mané?" - pensou Carolina.
- Acredito que irá encontrar. - Carolina não deu muita trela e olhou em direção a Phillip que estava conversando animadamente com uma mulher loira.
- A mulher com que...
Toca o Sino.
Phillip quase senta na cadeira a frente de Carolina, mas um homem grandalhão passa sua frente.
- Oi.
- Oi. - respondeu Carolina.
- É a primeira vez que faço isso, estou um pouco nervoso.
- Não precisa estar.
- Uns amigos fizeram uma aposta comigo.
- Eles estão aqui? 
- Não no encontro, mas estou no bar lá embaixo.
- E que tipo de aposta fizeram? 
- Acham que não vou arranjar nenhuma namorada, nem uma mordida de mosquito.
- Mas porque tanta negatividade?
- Desculpe falar, mas nenhuma mulher presta!
- Nenhuma? - Carolina ficou chocada.
- Sim, nenhuma. Elas só querem saber de homem rico, bonito e popular.
- Hmmm, acho que você está um pouco enganado.
- Não estou não! 
- Você tem futuro, pensando assim... - falou Carolina azeda - Mulher não gosta de homem inseguro.
- Viu? Não falei... Você, você me namoraria? - perguntou, atropelando as palavras.
- Mas, é claro que sim! - mentiu Carolina e pensou: "Nem se só houvesse você no mundo, meu bem!"
Toca o sino.
Desta vez, um rapaz de rosto quadrado, bem masculino, com barba bem feita e cabelo cortado estilo militar, se apresentou. Carolina ficou impressionada com o modo do rapaz.
- Você é militar?
- Não, sou bombeiro. 
- Bombeiro? Acho que nunca conheci um.
- Que bom que sou o seu primeiro - riu o bombeiro.
- É um trabalho que precisa ter amor para exercer. Acho bacana.
- Muito amor, não é qualquer um que aguenta o ritmo.
- Posso imaginar - falou Carolina.
Do outro lado do salão, Phillip olhava Carolina com interesse. Parecia que Phillip não estava prestando atenção em nada do que sua companheira estava dizendo. Ele se acometeu de ciúmes, viu que era um rapaz que interessou Carolina, mas ele confiava nela. 
Teria sido muita burrice se algo acontecesse, mas ele confiava em seu taco. Voltou a olhar Carolina, que agora ria junto com o rapaz, de algum piada, parece.
Tocou o sino.
A organizadora do evento pediu para que todos prestassem atenção a ela. 
Falou em alto e bom som que todos serão comunicados se houvesse algum interesse de algum casal. Pediu para que todos entregassem suas fichas e que se quisessem poderiam permanecer no local, no andar debaixo, onde ficava o bar. Todos se cumprimentaram e foram embora.
Phillip foi até Carolina e a beijou no rosto.
- Gostou da minha ideia maluca?
- Eu adorei, me diverti muito, cada peça que se apresentou. Mas, porque ideia maluca? - riu Carolina.
- Vai que algum desses caras se interesse por você e você também, estou praticamente arruinado!
- Bem, pode ser que aconteça sim... Até porque, você não é meu namorado! - provocou Carolina.
- Não, né? Realmente não sou. - aquietou-se Phillip.




* Evento para promover encontros amorosos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário