04 outubro 2012

9 - Acertos


Sexta-feira à noite. Carolina estava esperando Phillip de dentro da portaria, quando viu sua Land Rover prata chegar.
Esperou para ver se Phillip saía do carro. Ele demorou alguns segundos e saiu, indo em direção ao interfone do prédio. Carolina saiu da portaria logo em seguida.
- Oi! Chegamos à mesma hora. - Carolina falou, não querendo mostrar sua ansiedade.
- Acabei de estacionar... Tudo bem, Carol? Vamos? - falou Phillip impaciente.
Seguiram juntos para o carro e Phillip fez uma observação:
- Você está linda, Carol!
Carolina vestia uma camisa branca listrada, com uma saia vermelha, num laço da mesma cor fazendo-se de cinto e uma sandália alta. 
Enquanto Phillip estava bem casual; de jeans e blusa xadrez.
- Obrigada, Phillip. Você também está muito bonito. - Carolina sorriu e virou seu rosto para a janela do carro.
Chegaram em um lugar muito bonito, um restaurante praticamente na areia da praia e perto do restaurante se avistava um forte, bem iluminado, com o mar batendo violentamente contra as rochas. 
- Dava uma boa pintura esse lugar. - falou Carolina encantada.
- Eu sabia que ia gostar! - falou Phillip dando uma piscadela.
Sentaram-se à mesa bem defronte ao mar, pediram uma refeição leve que chegou logo e então, começaram.
- Carol, aquele dia foi muito esquisito. Você deveria saber que, se estou aqui com você, é porque não tenho nenhum compromisso com ninguém.
- Não foi isso que foi passado para mim. - falou Carolina rude.
- Eu sei, posso imaginar. A Luciana foi minha namorada e ela é daquele jeito mesmo...
- Namorada? Entendi que fossem casados.
- Não... E sim. Na verdade moramos juntos durantes três anos. Mas nunca casamos. Pela cabeça da Luciana, somos casados no papel, tudo o que é meu, é dela e se duvidar, ela deve achar que temos até filhos!
- E tem? - Carolina levantou a sobrancelha.
- Não, Carol, não temos e não vamos ter. Nós já nos separamos há mais de um ano.
- Então, o que ela estava fazendo no seu trabalho? Sei que não me deve explicações... - falou Carolina fazendo bico e olhando para baixo.
- Devo sim, Carol. Você deve achar que estou brincando contigo, mas não estou. Desde que nos conhecemos, tenho tido bons momentos, até meus amigos brincam comigo por isso. Eles sabem da sua existência, na verdade. - Phillip falou, corando as bochechas.
- Então, Phillip, o que aconteceu?
- Você pode me chamar de Phill? É mais curto e menos formal - riu Phillip, quebrando a seriedade da conversa.
- Phill... Phill. Ok! - Carolina estava um pouco impaciente.
- É o seguinte. Quando moramos juntos, eu comprei o apartamento onde moro. Ela colaborou com uma parte, digamos assim: 20% do investimento. Eu entrei com a outra parte, com os móveis e pagava o condomínio. Enquanto ela pagava as despesas com supermercado, eu pagava as contas, mas depois de um tempo, ela começou a reclamar e achar que não deveria mais trabalhar, que estava cansada, que queria ter um filho e isso tudo aconteceu praticamente num momento ruim da minha vida. Meu pai ficou doente, e eu só pensava nele, minha mãe contava sempre com minha ajuda. Precisava conciliar o trabalho com as visitas ao meu pai e não podia pensar em ter filhos. Estava sobrecarregado e minha relação com ela minou. Não somente por isso, preciso admitir, mas pelas imposições traçadas por Luciana. Aquilo me desestimulou.
- Quais imposições, Phill?
- Ela queria ficar em casa, sendo sustentada por mim, não me ajudava em praticamente nada, só queria saber de shopping com as amigas... Eu não tinha uma companheira e naquele momento eu precisava de uma.
- Vocês tinham empregada?
- Sim, ela fazia questão! Empregada três vezes na semana. Era mais uma despesa para mim. Não que eu queria que ela fizesse tudo, não sou desses homens machistas que você deve estar pensado.
- Não pensei nada, Phill. Sei que tem mulheres que abominam afazeres domésticos, mas o mínimo que ela deveria fazer, se ela quisesse sair do emprego é pelo menos ajudar você em casa.
- Sim, mas isso era o menor dos problemas. Quando começamos o namoro, ela era uma mulher independente, carismática e doce. Depois de um tempo, virou outra mulher; mesquinha e egocêntrica.
- Deve ter sido duro pra você, ficar com uma mulher que não tinha mais nada a ver.
- Aguentei por um tempo, até ela chegar em casa e falar que tinha pedido demissão e que não procuraria emprego tão cedo. Perdi o chão. Eu não podia sustentar aquela casa sozinho, não mesmo. Tivemos uma briga feia e ela foi para a casa da mãe.
- E agora, depois de um ano, o que ela quer?
- Ela quer que eu venda o apartamento e dê a parte dela. Ela quer minha casa, Carol! - disse Phillip desesperado.
- Como é? Como é atrevida essa Luciana!
- Por favor, Carol, não cite mais o nome desta mulher! Eu cheguei a dar uma 'mesada' a ela todo mês, como um cala boca. Acho que alguém fez a cabeça dela para me pedir isso.
- Mas, você tem provas de que você deu dinheiro a mais no apartamento? De que pagava as contas do condomínio e outras despesas?
- Tenho, tenho tudo guardado, acredito que isso seja suficiente para que ela não pleite nada. Nem temos filhos, ela não tem direito a pensão.
- Acredito que não, Phill, mas acho que isso vai dar a você uma dor de cabeça danada!
- E eu não sei disso?
Tentando amenizar o problema, Phillip falou:
- Quer dizer que você achou que eu era um sultão... - riu Phillip
- Ahhh, quer dizer que você pensa nisso, né? - riu de volta, Carolina.
- Quem sabe se eu descobrir petróleo em algum canto... Você seria a minha concubina favorita, ok?
- Se tiver muito ouro, maquiagem e tecidos de fino trato, eu aceito! 
- Ah, essas mulheres...
- Ei, calma, não sou igual a sua ex-mulher, ãhn! - falou Carolina fazendo cara de quem estava chateada e depois caiu na risada.
- Assim você me mata, Carol! Ufa!
E terminaram o jantar.
- Depois daqui, quero mostrar o forte, pelo menos até as rochas, porque a essa hora já está fechado. Vamos? - falou Phillip, mais seguro de si.
- Vamos sim, achei a vista daqui lindíssima!
Chegaram andando calmamente, pisando nas pedrinhas das areias, alguns cascos e conchas, conversaram nesse meio tempo sobre os planos futuros e outras trivialidades.
- Olha! - apontou Carolina. Tem um farol logo ali! Adoro faróis, acho tão bucólicos e românticos! - falou Carolina parecendo uma criança que avista um ursinho de pelúcia gigante.
- Aqui é realmente muito bonito, de dia é muito agitado, o pôr do sol então, nem se fala!
Caminharam para mais perto das rochas e enquanto Carolina estava obcecada olhando para o Farol e para o mar, Phillip delicadamente aproximou-se mais de Carolina, abraçando-a por trás, num abraço confuso, porém muito revelador. 
Phillip tinha se entregado finalmente aos encantos de Carolina.

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